Num tempo em que a juventude é muitas vezes silenciada ou reduzida a estereótipos, um projeto ousado nasce dentro da Faculdade de Formação de Professores da UERJ com o propósito de devolver aos jovens algo essencial: a palavra. Mais que isso — a palavra rimada, rimada em cordel.

O projeto Leituras na Cordelteca da FFP, vinculado ao acervo Cordelteca Gonçalo Ferreira da Silva, é mais do que uma iniciativa de extensão universitária — é um gesto de resistência cultural e valorização do saber popular. Conduzido por uma equipe dedicada de bolsistas e uma coordenação sensível ao papel social da arte, o projeto busca colocar o cordel em cena nas escolas, nos encontros e nos afetos de quem participa.
Inspirado na oralidade nordestina e em suas estéticas visuais, como a tradicional xilogravura e sua variante acessível, a isogravura, o projeto convida estudantes a vivenciar experiências literárias completas: leitura, escrita, performance, reflexão e arte visual — tudo no mesmo espaço.
Entre os destaques, está a oficina “A Voz da Juventude: Expressão e Identidade através da Poesia”, que utiliza o cordel como plataforma criativa para adolescentes refletirem sobre quem são e sobre o mundo que habitam. Para isso, o texto “Cordel Adolescente, ó Xente!” é o ponto de partida: a voz forte da personagem Doralice ecoa nos versos de meninas e meninos que, como ela, vendem seus poemas à beira das feiras da vida e do futuro.
Com ações como o evento Folheto Aberto: Cordel em Cena, rodas de leitura, jograis, oficinas e debates, o projeto alcança escolas, bibliotecas e outras instituições, criando conexões entre o espaço acadêmico e os saberes tradicionais da cultura nordestina. A ideia é clara: fazer com que o cordel, por vezes restrito a regiões específicas ou marginalizado como “literatura menor”, seja reconhecido como arte potente e digna de circular em todos os espaços educativos.
Além do exercício estético e linguístico, o projeto aposta na valorização da cultura como forma de emancipação. Ao recitar cordéis e criar seus próprios folhetos, os estudantes experimentam o prazer de criar com as palavras, resgatar suas origens e se verem representados por vozes como a de Doralice — uma mocinha nordestina, falante, corajosa e autora de sua própria história.
As ações são todas planejadas com cuidado: da leitura crítica dos folhetos à produção de textos poéticos, da construção coletiva de isogravuras à realização de rodas de conversa, tudo é pensado para que os participantes sejam protagonistas do processo artístico e educativo. O resultado é mais do que bonito — é transformador.
Mais do que apresentar a literatura de cordel aos jovens, o projeto Leituras na Cordelteca os convida a fazer parte dela. Porque quando a juventude encontra sua voz, o cordel não é apenas lido — ele é vivido.


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