Num país em que a infância ainda é muitas vezes silenciada e os espaços de escuta, leitura e criação artística são vistos como luxo, iniciativas como a do COLEI – Coletivo de Estudos e Pesquisas sobre Infâncias e Educação Infantil surgem como sopros de esperança e reinvenção. Vinculado à Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FFP-UERJ), no município de São Gonçalo, o COLEI tem como coordenadora a professora e pesquisadora Heloisa Josiele Santos Carreiro, que desde 2018 lidera uma jornada de construção coletiva entre universidade, escola e comunidade.

O nascimento do COLEI está diretamente ligado à trajetória acadêmica e militante de Heloisa, que atuou em grupos como o GRUPALFA (UFF), e os coletivos Vozes da Educação e GIFORDIC (FFP-UERJ). Tais experiências foram fundamentais para consolidar seu olhar atento e ético sobre a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental. A partir disso, surgiu a proposta de fundar um coletivo que articulasse ensino, pesquisa e extensão com foco na escuta das infâncias e no fortalecimento das práticas pedagógicas voltadas para uma educação pública, democrática, sensível e literária.
Um coletivo que respira infância, literatura e formação
Desde sua criação, o COLEI tem desenvolvido projetos que vão além das fronteiras acadêmicas. Seu primeiro projeto de Iniciação Científica, voltado para rodas de leitura e contação de histórias em praças públicas, já anunciava o caráter ousado e afetivo da iniciativa: romper os muros da universidade e devolver à comunidade seu lugar de protagonista no processo educativo.
Atualmente, o grupo reúne 10 projetos ativos, coordenados por Heloisa com o apoio de 15 bolsistas e 4 voluntários, estudantes dos cursos de Pedagogia e Letras. Os projetos abrangem áreas como mediação literária, práticas de alfabetização, formação docente crítica, multiletramentos e intervenções comunitárias, sempre com base em metodologias colaborativas e escuta ativa das crianças e de seus territórios.
Uma das grandes marcas do coletivo é o compromisso com a promoção da palavra poética como forma de expressão e transformação. Em 2020, em pleno cenário de pandemia e distanciamento social, o COLEI lançou seu primeiro Concurso de Poesias, que, desde então, se tornou uma ação anual de grande impacto na comunidade acadêmica e escolar.
Os Concursos de Poesia: cinco anos de escuta e encantamento
Ao longo de cinco anos, os concursos promovidos pelo COLEI reuniram milhares de vozes poéticas de diferentes faixas etárias e regiões do Brasil e do mundo. Cada edição propôs um tema que refletia o espírito do tempo e os desafios enfrentados por educadores, crianças, famílias e comunidades. A seguir, uma síntese das obras que nasceram dessas experiências:
1. Experiências de Escrevivências: poesias que nasceram na pandemia (2020)
Este primeiro livro nasceu no auge do isolamento social, como resposta à urgência de comunicar afetos e resistências. A coletânea reúne 119 poemas divididos entre as categorias infantil, juvenil e adulta, compondo um mosaico de vivências em tempos de incerteza. A palavra poética aparece aqui como abrigo e liberdade. É também um testemunho histórico de como a arte pode ser cuidado em tempos de crise.
2. Esperançar é Preciso (2021)
Inspirado no legado de Paulo Freire e celebrando os três anos do COLEI, o segundo volume reafirma a esperança como ato pedagógico e revolucionário. Com 203 inscrições vindas de diversas partes do Brasil, além de Portugal e Moçambique, o concurso destacou o poder transnacional da poesia como linguagem universal. O e-book homenageia também os profissionais da saúde que atuaram incansavelmente durante a pandemia, fazendo da palavra um gesto de gratidão coletiva.
3. A Literatura e a Vida Humana (2022)
Em diálogo com Antonio Candido e sua defesa da literatura como direito humano, essa edição trouxe 263 poemas que celebram o papel da arte na formação ética, estética e social dos sujeitos. A realização de um sarau presencial na FFP-UERJ marcou simbolicamente o reencontro com os espaços de convivência e reafirmou o compromisso do coletivo com uma universidade viva, aberta e plural.
4. O Direito à Educação (2023)
Em meio às comemorações dos 50 anos da FFP/UERJ e dos 5 anos do COLEI, essa edição alcançou o recorde de 473 poemas inscritos. O concurso foi também um laboratório de práticas interinstitucionais, envolvendo escolas públicas, movimentos sociais e a sociedade civil em oficinas e encontros formativos. A obra apresenta a educação como um bem inalienável e aponta para a poesia como caminho de reinvenção das práticas pedagógicas.
5. Modos de Ser Criança e de Viver Infâncias (2024)
Fechando este primeiro ciclo, o quinto livro é uma celebração à pluralidade das infâncias. Com 407 poemas, a coletânea homenageia os diferentes modos de ser criança, reconhecendo as vozes infantis como produtoras de cultura, linguagem e sabedoria. A edição marca a ampliação dos vínculos do COLEI com escolas, coletivos culturais e movimentos que lutam pelos direitos das crianças e pelo reconhecimento de suas existências em sua totalidade.
Uma educação que se faz com escuta, imaginação e palavra
Os concursos do COLEI não são apenas eventos literários: são experiências educativas profundas. A cada nova edição, mais educadores, crianças e famílias se aproximam da literatura não apenas como conteúdo escolar, mas como parte da vida cotidiana, da memória e da construção do futuro. Cada poema inscrito é um gesto de afirmação, cada sarau, um ato de resistência.
Com uma atuação consistente e enraizada nos territórios de São Gonçalo e Niterói, mas com voz que já ecoa por muitos outros lugares, o COLEI segue sua caminhada comprometido com uma universidade pública mais justa, afetiva e transformadora.
Para conhecer mais sobre os livros produzidos pelo coletivo, acesse: https://coleiblog.wixsite.com/revistacolei/livros-organizados-pelo-colei
Contato para oficinas, formações e parcerias:
colei.ffpuerj@gmail.com


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