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Velhos Precipícios: Quando Amar É Seguir Sempre Pela Mesma Estrada

Existem amores que nos transformam. E existem aqueles que nos paralisam no meio da travessia, como se estivéssemos sempre à beira de um mesmo abismo. O poema Velhos Precipícios, do meu livro Rosa Apaixonada, fala desse tipo de amor: arrebatador, intenso, mas que insiste em nos manter presos a um ciclo que não se fecha. Um amor onde nos perdemos tentando nos encontrar no outro.

Velhos Precipícios

Em você me perdi num caminho,
Voei livre no céu da sua boca,
Falei-te ao pé do ouvido, baixinho,
As palavras insanas da louca..

E ouvi tua canção bela a tocar
Entre os frutos sãos, desconhecidos,
Tocando-me onde o tom nunca para:
Coração entre sonhos proibidos… 

Por mim libertei minha alma (em sonho),
Caminhei louca atrás do meu tempo,
Caminhei louca atrás de ti insone,
Obstinada e feliz contra o vento;


Mas na hora alguém falou comigo,
Voz de não sei onde: será jamais?
Amo contra ti sempre contigo,
Abarcando em teus braços, meu cais… 

Quem me disse que somos iguais?
Por que trilhas antigas eu sigo
Se há novas rotas que se fazem,
Bem aquém dos velhos precipícios?

A entrega de quem ama demais

“Em você me perdi num caminho, / Voei livre no céu da sua boca”

Esse é o traço Orador (Traço Oral) em sua forma mais crua: alguém que se dissolve no afeto, que se entrega antes mesmo de saber se será recebido. O Orador ama com tudo. Não calcula. Não se protege. E por isso, muitas vezes, se perde.

“Caminhei louca atrás do meu tempo, / Caminhei louca atrás de ti insone”

Há uma busca desesperada aqui. Uma caminhada insone que revela a dependência emocional que o Orador em dor carrega: ele precisa do outro para se sentir inteiro. E, na ausência, caminha mesmo sem chão.

O prazer e a dor no mesmo abraço

“Amo contra ti sempre contigo, / Abarcando em teus braços, meu cais…”

Esse verso sintetiza a contradição de quem ama apesar da dor. O Orador aqui não deixa de amar, mesmo sabendo que o amor não o acolhe por inteiro. Ama contra tudo. E ainda assim deseja estar junto. É o amor como cais e tempestade ao mesmo tempo.

A dor de não ter sido a escolhida

Junto dessa entrega emocional, aparece também a dor do traço Realizador (Traço Rígido). A dor de quem desejava ser a única, mas percebeu que não foi.

“Quem me disse que somos iguais?”

Essa pergunta carrega frustração e ressentimento. O Realizador em dor sofre quando entende que o lugar que ocupava talvez não fosse tão exclusivo quanto acreditava. E a comparação, inevitável, machuca ainda mais.

A dificuldade de se libertar

“Por que trilhas antigas eu sigo / Se há novas rotas que se fazem”

Esse é o ponto de virada do poema. A consciência começa a surgir: a narradora sabe que precisa mudar de rota, que novos caminhos existem, mas a alma ainda está presa às trilhas conhecidas, ainda que elas levem sempre aos mesmos precipícios.

O Realizador, quando ferido, tende a permanecer na dor conhecida por medo de errar novamente. E o Orador, por carência, volta para o lugar onde foi tocado, mesmo que esse toque já tenha virado ausência.

Um poema sobre a coragem de recomeçar

Velhos Precipícios é um poema sobre quem amou com o corpo inteiro, se jogou sem paraquedas e descobriu, tarde demais, que o outro nunca chegou junto. Mas também é sobre a consciência que nasce aos poucos. Sobre a pergunta final que ecoa como possibilidade:

“Se há novas rotas que se fazem…”

Sim, elas existem. E talvez o primeiro passo para trilhá-las seja esse: reconhecer o ciclo, nomear a dor, e ter coragem de sair da repetção.

Se você também se reconhece nesse caminho que insiste em voltar para o mesmo lugar, talvez esse poema seja um espelho. E um convite para, enfim, mudar a direção.

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Eu sou Camila Lourenço Covre, especialista em desenvolvimento humano e linguagem comportamental. Acredito que a comunicação é a chave para decifrar a alma humana e construir conexões mais profundas. Se você se interessa por esses temas, acompanhe meu trabalho no Instagram: @camilaslourenco.


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Criada em 2020 pelo professor e poeta Renato Cardoso, a Revista Entre Poetas & Poesias é um periódico digital dedicado à valorização da literatura e da arte em suas múltiplas expressões. Mais que uma revista, é um espaço de conexão entre leitores e autores, entre a sensibilidade poética e a reflexão cotidiana.

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