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Contadora de histórias

Contava histórias à noite, pela luz de velas, com a regularidade diária que os fazia voltar como dedicados ouvintes. Mas tarefa que desenvolvia com enorme gosto ao ser contadora de enredos, não tinha início pelo horário nocturno escolhido, mal acabava o jantar, dela e dos seus habituais visitantes. Com efeito, logo bem cedo pelo amanhecer, dava o arranque dessa jornada, cada qual tão diferente, somente pelos contos seleccionados, pois que tudo resto seguia um padrão comum. Naquele iniciar tão madrugador, fazia escolhas do que iria contar pela noite, depois sua entrega passava pelos naturais e evidentes ensaios, para que nada falhasse mais tarde. O que ela não sabia, senhora de idade avançada, era que vizinhas dos lados e pelo alto piso superior, com atenção escutavam o seu declamar quase poético da prosa tão agradável de ser ouvida, nos recursos de copos para captarem melhor o som de voz anciã. Mais recentemente, também sua vizinha do andar mais abaixo, juntou-se ao referido grupo das que ouviam ensaios, após ter sido alegremente informada de quanto valeria mesmo a pena. Socorreu-se de escada para ficar próxima ao tecto e nada perder de substancial. No princípio, a senhora treinava o belo contar de histórias apenas de manhã, descansando pela vespertina ocasião que bem merecia. Só que após algumas semanas, decidiu praticar igualmente por uma hora, durante a tarde, situação que não passou despercebida às fiéis vizinhas. Rápido se aperceberam e trataram de bem fazer aviso àquela que chegava sempre pelo fim, às sessões de agradável escuta. Certo dia, a contadora de histórias teve percepção de estar a ser ouvida, quando algo caiu, possivelmente da escada que elevava sua última ouvinte até tecto realmente sonoro, mas não se importando, até gostando imenso daquele mediatismo, quiçá predial na sua designação. Ao chegar do nobre horário mesmo a sério, com repleto salão de jovens vindos de redondezas mais ou menos distantes, vizinhança continuava a ouvir pela enorme atenção, até que uma noite mais quente, optaram por também aparecer à sessão, perguntando se integrar poderiam, aquela especial literária rotina nas próprias vidas. Senhora anfitriã deu pronta resposta que sim, «Venham sempre que desejarem, mas podem continuar a fazer assistência sonora aos meus ensaios.»


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Criada em 2020 pelo professor e poeta Renato Cardoso, a Revista Entre Poetas & Poesias é um periódico digital dedicado à valorização da literatura e da arte em suas múltiplas expressões. Mais que uma revista, é um espaço de conexão entre leitores e autores, entre a sensibilidade poética e a reflexão cotidiana.

Registrada sob o ISSN 2764-2402, a revista é totalmente eletrônica e acessível, com publicações regulares que abrangem poesia escrita e falada, crônicas, ensaios, entrevistas, ilustrações e outras formas de expressão artística. Seu objetivo é tornar a arte acessível, difundindo-a por todo o Brasil e além de suas fronteiras.

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