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Reflexões sobre Etarismo(relativização) e Estética: Navegando pelas Novas Dinâmicas (Texto de Anaina Elias)

Lembramo-nos de um tempo, não muito distante, em que observávamos, com certa perplexidade, homens que, após anos de casamento, trocavam suas esposas por parceiras mais jovens. A justificativa frequentemente passava pela ideia de “virilidade”, mas hoje compreendemos que, em muitos casos, a questão era primordialmente estética. Com os notáveis avanços da estética, um novo panorama se apresenta às mulheres, que por vezes se sentem confusas sobre como lidar com as opções de aprimoramento externo. Cuidar do corpo e da mente é, inegavelmente, uma ferramenta valiosa. Para nós, mulheres acima dos 40 – realizadas profissionalmente, resilientes e seguras –, é uma forma de aliviar as marcas de uma jornada intensa. Rompemos com estereótipos antigos: não somos mais apenas as avós dedicadas exclusivamente aos netos, nem as figuras curvadas pela dor vistas em filmes de décadas passadas. No entanto, essa nova liberdade traz um desafio sutil: a relativização do etarismo, que pode gerar novas formas de desconforto, talvez até mais complexas.
Como profissional da estética e mulher que aplica conhecimentos em cosméticos naturais de alta performance, observo essa tendência de perto. Não é incomum receber propostas de relacionamento de homens significativamente mais jovens, por vezes mais novos que meu próprio filho, as quais opto por recusar. A mulher madura tornou-se, de fato, um foco de interesse para o mercado. Na mídia, a mulher 40+ é frequentemente retratada como um “grande público-alvo”. Essa pressão social, contudo, pode se tornar uma armadilha. Algumas mulheres buscam melhorias estéticas não por um desejo genuíno de autocuidado, mas como uma resposta a padrões externos, talvez uma “revanche” simbólica contra a valorização da juventude ou uma reação a um término de relacionamento. O pensamento pode ser: “Se a sociedade valoriza isso, por que não entrar no jogo?”.
Quando relacionamentos com grande diferença de idade se iniciam nesse contexto, qual dinâmica pode surgir? Por vezes, a mulher madura, com sua aparência rejuvenescida, pode se encontrar em um papel quase maternal. Movida talvez por um instinto protetor ou pela própria dinâmica que se estabelece, ela pode assumir a posição de principal suporte – financeiro ou emocional – do parceiro mais jovem. Isso pode se manifestar em conselhos, presentes, pagamento de estudos, auxílio com bens materiais, entre outros. Esse padrão pode espelhar dinâmicas de poder desiguais vistas em outros contextos históricos e sociais, onde recursos financeiros ou status criam dependência, independentemente do gênero dos envolvidos. A questão central é o desequilíbrio e a potencial instrumentalização da relação.
Seriam, então, impossíveis relacionamentos autênticos entre pessoas com idades muito distintas? Claro que não. Relações genuínas podem florescer em qualquer cenário, mas exigem maturidade, respeito mútuo e clareza sobre as expectativas de ambas as partes. O risco está em ignorar ou minimizar as diferenças naturais de cada fase da vida, o que pode levar a armadilhas emocionais e financeiras. O humor das redes sociais brinca com essas situações, como nos memes que viralizam. São apenas piadas, mas refletem, de forma caricata, uma realidade que pode ser complexa e dolorosa para quem a vive. Mulheres reais, talvez influenciadas por essa mesma relativização do etarismo, podem se ver emaranhadas em situações desafiadoras. É fundamental, portanto, refletir sobre o idadismo (ou etarismo/ageísmo): os estereótipos e preconceitos baseados unicamente na idade, que desconsideram a riqueza e a complexidade de cada etapa da vida, com suas dores e delícias. A indústria da beleza, ao focar na “renovação” e no “rejuvenescimento”, não estaria, paradoxalmente, reforçando alguns dos mesmos preconceitos que buscamos superar? Não seria uma forma sutil de perpetuar a valorização excessiva do exterior feminino, uma herança cultural que questionamos?
Qual o caminho a seguir? Abandonar o autocuidado como forma de protesto? Certamente não. A chave parece estar na responsabilidade afetiva – começando por nós mesmas. Cuidar de si é legítimo e importante. O ponto crucial é a consciência sobre nossas motivações e a forma como construímos nossas relações a partir daí. Essa reflexão nos leva a questionar: por que raramente ouvimos falar de casais com idades compatíveis que decidem, juntos, investir em melhorias estéticas como uma forma de cuidado mútuo? Por que as narrativas sobre transformações pessoais frequentemente parecem ligadas a sentimentos de vingança, em vez de celebrarem o cuidado compartilhado de um casal que, valorizando sua trajetória conjunta, decide presentear um ao outro com suas versões aprimoradas? Envelhecer é parte intrínseca da vida, um processo natural para todos os seres. Se a vida permitir, todos passaremos por isso. Enquanto navegamos por nossas jornadas, é essencial mantermos a atenção aos preconceitos – inclusive aqueles que podem surgir de forma inesperada ou invertida – e aos perigos que a negação ou a simplificação excessiva das fases da vida podem trazer.

(Esse texto é de Anaina Elias, que  é Terapeuta integrativa e detentora de algumas marcas de cosméticos na área Estética. Mais de 20 anos de experiência de carreira. É exímia ouvinte de centenas de casos de clientes que foram vítimas dessa relativização.)

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