Eu tinha 12 anos quando ganhei o meu primeiro livro de poesias. Um presente da diretora da minha escola, que talvez nem imaginasse o quanto aquele gesto simples mudaria a minha trajetória. Dentro daquele livro, encontrei um poema que nunca mais saiu de mim: Canção para uma valsa lenta, de Mario Quintana. Hoje, tantos anos e estudos depois, compreendo por que me tocou tanto — ele falava com o meu traço mais sensível: o Orador em dor.
A vida que passou sem virar romance
“Minha vida não foi um romance… / Minha vida passou por passar.”
Esse é o tipo de lamento que só um Orador pode sentir com tanta verdade. A sensação de ter vivido esperando por algo que não veio. O amor sonhado, idealizado, nunca concretizado. E com isso, a sensação de que a vida passou sem deixar marcas de afeto correspondido.
O Orador, quando em dor, vive uma expectativa emocional constante — e sofre ao perceber que aquilo que tanto desejou nunca chegou a acontecer.
O medo do amor… e do não amor
“Se me amas, não digas, que morro / De surpresa… de encanto… de medo…”
Essa contradição delicada é a alma do traço: querer desesperadamente ser amado, mas ao mesmo tempo temer não saber lidar com a intensidade disso. O Orador precisa tanto do vínculo, que quando ele se insinua, pode até se retrair. Há um susto no amor, um medo de que o encanto não dure — ou de que o afeto não seja forte o suficiente para sustentá-lo.
A dependência afetiva em forma de poesia
“Pobre vida que toda depende / De um sorriso… de um gesto… um olhar…”
Esse verso diz tudo. O Orador sente que sua existência emocional depende do outro. Ele não apenas quer ser amado, ele precisa. É como se sua vida só ganhasse enredo quando há reciprocidade. Caso contrário, o mundo interno entra em suspensão — uma vida sem romance é, para esse traço, uma vida não vivida por inteiro.
O Realizador que queria ter sido escolhido
Embora o poema seja, em sua essência, oral, ele carrega também a dor sutil do Realizador (Traço Rígido). Aquele que esperava protagonizar uma grande história de amor e, no fim, vê sua narrativa marcada pelo silêncio.
“Minha vida passou sem enredo…”
Aqui não há revolta. Há frustração. Uma dor calma, resignada, de quem não foi a personagem principal na história de ninguém — e, talvez por isso, tenha dificuldade em ocupar esse lugar até mesmo na própria vida.
O poema que me escolheu antes de eu saber quem eu era
Hoje, com as lentes da análise corporal e da linguagem comportamental, consigo entender por que aquele poema me marcou tanto. Ele falou com a adolescente que esperava ser notada, amada, vivida. Que queria protagonizar uma história linda, mas se via apenas como coadjuvante de paixões alheias.
Canção para uma valsa lenta me ensinou que até o “quase” pode doer bonito. E talvez tenha sido ali, naquela leitura singela aos 12 anos, que eu comecei a encontrar a minha voz.
Se você também sente que sua história emocional tem pausas, esperas e silêncios, saiba que não está só. E que a poesia, muitas vezes, é onde a gente começa a se escutar de verdade.
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Eu sou Camila Lourenço Covre, especialista em desenvolvimento humano e linguagem comportamental. Acredito que a comunicação é a chave para decifrar a alma humana e construir conexões mais profundas. Se você se interessa por esses temas, acompanhe meu trabalho no Instagram: @camilaslourenco.


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