Perdoe-me, pois eu me traí. Eu possuía princípios e valores, todavia eu os traí. A minha pessoa era uma, mas decidi tentar a diferença para comigo. Qual diferença eu tentei? A diferença entre o eu ser. Tentei ser um ideal que nunca fui, mas não consigo. Os outros queriam que eu fosse esse dever-ser, um ideal que de ideal não existe.
O que é o ideal para os outros? O ideal para os outros é ser livre para fazer o que querem. A tão sonhada liberdade que esconde a escravidão em seu interior. Uma escravidão para consigo mesmo, para com seus desejos e impulsos mais primitivos. O instinto é uma prisão que te dá uma sensação de liberdade. Diziam-me que eu me encontrava preso sob o prisma de meus valores. No entanto, quem se encontrava preso eram os outros que não os possuíam.
A traição pode ser com o outro, por exemplo, em uma amizade ou em um relacionamento. Contudo, não há traição maior do que a consigo mesmo. É um tentar-ser o que não é. Essa é uma traição que cometi. Sob a ótica cristã, um pecado mortal, porquanto me traí. Durante longo tempo, submeti-me aos ditames dos outros. Não segui os meus princípios e os meus valores.
O escravo que eu era pensava ser livre. Mas não há liberdade sob os ditames alheios. A verdadeira liberdade, para Immanuel Kant, é se impor limites nos termos de seus próprios valores. Não me impus os meus limites, mas os limites dos outros. Esses limites, sim, são as verdadeiras prisões.
Finalmente me libertei das regras alheias. O sistema me quis escravo dele, mas fui liberto. A minha consciência me libertou. Uma escravidão mental me prendia sob pena de sanções sociais. Portanto, submeti-me ao sistema e fui escravo dele. Minha consciência era escrava dos outros, meus pensamentos também. Todavia, no momento fui liberto das amarras dos outros.
Na minha liberdade fui eu mesmo. Criei minhas próprias regras e limites. À guisa de conclusão, portanto, percebo que não posso me alterar perante os outros e nem mudá-los. Se tentar, serei alterado em minha essência. Desse modo, criei meu próprio sistema com normas próprias: finalmente me libertei.


Deixe um comentário