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LINGU@GENTE, DE GUSTAVO DOURADO

Por Elias Antunes

         Nos poemas de Lingu@gente, de Gustavo Dourado, como o próprio título sugere, há um trabalho profundo e intenso com a recriação da linguagem, redefinindo termos e dando-lhes novos sentidos, surgindo novas palavras, neologismos formados, principalmente, pela aglutinação dos vocábulos, palavras de duplo sentido, polissêmicas, como em “Amada”:

         “Flor bem-amada mulher

         Inspiramor luz-sapiência

         Desperta o sentimento

         O prazer na sua essência

         Amorosa: flui amor no nome

         E na raiz da consciência

         Amada e linda flor do mar

         Por onde passa semeia poesia” (…)

         (DOURADO, 2022, p. 17)

         Há momentos de homenagens, mas o poema não se entrega de imediato. É preciso ter outras leituras, como referências vivas e edificantes de grandes nomes das artes e da literatura, como no interessante poema sobre Jorge Luís Borges “Bórgea”:

         “Tu és Aleph que nos circunda

         Alma literária que erode a língua

         Ás da linguagem scoolturalfa

         A esculpir metamorfoses sonoras

         Na abstração metafísica do sono

Ser ultraísta em mitra shivagante

Almíscar da palavra em ignição

Derramai sobre nós tua fertilidádiva:

Klarievidente gladiator da alquimagia”

          (DOURADO, 2022, p. 23)

         E também não poderia faltar as referências geográficas, do excelente do Planalto Central:

         “CANDANGA

         Dantes de tudo, indígenas aqui viviam

         Pelos chapadões do Planalto Central

         Depois vieram antigos bandeirantes

         Viajantes pelo altiplano descomunal” (…)

         (DOURADO, 2022, p. 29)

         As misturas e o entrechocar de ideias e de linguagens não poderia deixar de fora a questão da atualidade com a comunicação, através dos meios eletrônicos, digitais:

         “Digitália

         Na era digital

         Será que somos lidos

         Por leitores reais?!”

         (DOURADO, 2022, p. 39)

         Diante das revoluções pelas quais passamos, o homem enfrenta uma de suas mais estranhas transformações, a da tecnologia, pois parece que quer deslocar o homem do centro, ou melhor, do ápice da criação, dando lugar à criatura-máquina.

         “Homenovo

         Poético-sensual

         Surgirá dionisíaco

         Performático bailarino

         Surfista transideral

         Rítmico consciente

         Alquimístico da palavra”

         (DOURADO, 2022, p. 63)

         Existe nos embates dos trabalhos-poemas apresentados neste livro, a tentativa de resgatar exatamente o homem do caos de um novo mundo por ele criado, onde a desumanização avança e torna-se urgente levantar a poesia como uma das tábuas de salvação.

         Ganhador de diversos prêmios e homenagens, tanto pelos seus trabalhos culturais, quanto por sua obra poética e os seus cordéis, Gustavo Dourado é um dos baluartes da literatura candanga.

Livro: Lingu@agente

Autor: Gustavo Dourado

Páginas: 156

Gênero: Poesia

Prêmio FAC/DF

Ano: 2022

Fonte da imagem: Foto do autor.


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