Conversavam os dois amigos: João Paulo e Gabriel. João Paulo possui emprego fixo e estável como funcionário público do Estado, salário de R$10.000,00 líquidos e tem tudo o que a população deveria ter: residência, automóvel e comida em abundância.

Gabriel já vive na corda bamba, trabalha sob a CLT, recebendo um salário mínimo, e informalmente, fazendo bicos. Vive aos trancos e barrancos, não possuindo, às vezes, o básico. Não tem automóvel e mora de aluguel, lutando bravamente pela sobrevivência.

Dialogavam a respeito das mazelas da vida. João Paulo dizia que o mundo estava complicado. Os preços dos produtos mais básicos estavam altíssimos. Era difícil arranjar emprego. Ele mencionou demais coisas que se diz quando se tem uma conversa do dia a dia.

Gabriel retrucava João Paulo. Dizia o primeiro que o segundo deveria dar graças a Deus por conseguir sobreviver. Ele também deveria agradecer por possuir um emprego estável. Além disso, ele deveria dar graças por viver confortavelmente. João Paulo concordava: você tem um ponto.

João Paulo reclamava que seu automóvel vivia em manutenção. Ele achava caríssimo o conserto do veículo. Ele também dizia que gastava demais. Gabriel dizia que ele deveria dar graças a Deus por ter um automóvel. Muitas pessoas não possuem um e dependem de transporte público ou mesmo andam a pé. João Paulo concordava: você tem um ponto.

João Paulo se lamentava ainda a respeito de seu salário, que o Estado não aumentava. Com a alta dos preços, ficava difícil a sobrevivência. Todavia, Gabriel afirmava que o salário de João Paulo era ótimo. João Paulo não era tão afetado quanto o amigo. O amigo recebia um salário mínimo e fazia bicos informalmente. Nem tudo que Gabriel queria, ele podia, diferente do colega. João Paulo, como sempre: você tem um ponto.

João Paulo, prestes a dizer mais alguma mazela sobre sua vida é interrompido por Gabriel. Este diz que João Paulo reclama aos montes. Mesmo assim ele possui tudo o que gostaria de ter. Ele tem uma vida estável, um emprego fixo que paga bem, uma moradia própria e um automóvel do ano. Não havia motivo para João Paulo se lamentar, pois para ele, alegava, estava difícil, mas para Gabriel estava quase impossível.

João Paulo disse que ele tinha um ponto. Não havia sobre o que reclamar. As dificuldades que ele possuía eram distintas das de Gabriel. As oportunidades que teve Gabriel não tivera. E a vida que ele tem, o amigo gostaria de ter. Gabriel tem um ponto incontroverso. É difícil contrapor a isso. O que temos, não estamos satisfeitos, nunca. A grama do vizinho aparenta sempre ser mais verde…