Nos últimos anos, observa-se um preocupante fenômeno: a transformação do autismo em um mercado lucrativo para oportunistas e falsos especialistas. Em nome da “educação” e da “psicoeducação”, muitas iniciativas mascaram interesses comerciais, utilizando uma narrativa emocional que explora a vulnerabilidade das famílias e das pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A fragilidade natural dos pais, ansiosos por informações, suporte e tratamentos que possam oferecer qualidade de vida a seus filhos, cria um terreno fértil para práticas antiéticas. Cursos, certificações duvidosas, métodos terapêuticos sem validação científica e produtos vendidos como “essenciais” proliferam em ritmo alarmante. Não raramente, o apelo emocional se sobrepõe à necessidade de rigor técnico, desvirtuando a verdadeira missão da educação e da assistência em saúde mental.
O que deveria ser um trabalho sério, respaldado por evidências científicas e conduzido por profissionais devidamente habilitados, dá lugar a abordagens simplistas, generalistas e, muitas vezes, perigosas. A falsa promessa de “cura”, “normalização” ou “potencialização imediata” do desenvolvimento infantil, sem respeito pela complexidade do espectro autista, não apenas fere princípios bioéticos, como também aprofunda o estigma e a desinformação.
É fundamental reforçar que o atendimento ao público com TEA deve seguir diretrizes científicas robustas, como preconizado por entidades sérias, entre elas a American Psychiatric Association (APA), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A prática profissional exige formação contínua, respeito às diferenças individuais, escuta qualificada e responsabilidade social. O oportunismo, em contrapartida, desrespeita essas bases, contribuindo para a alienação, a medicalização indiscriminada e a frustração de expectativas legítimas. Portanto, é imprescindível denunciar e combater essa mercantilização do autismo, promovendo uma educação em saúde que seja ética, baseada em evidências e centrada na dignidade humana. Cuidar de pessoas com TEA é um compromisso sério e contínuo, não um meio de lucro fácil travestido de boas intenções.
(Esse texto é de Francis Moreira da Silveira, MD, Ph.D.; Médico psiquiatra (CRM MG 55307, RQE 44612/63110), membro da ABP e International Fellow da APA. Ph.D. em Ciências da Saúde, Mestre em Neurociências (UniLogos) e especialista em Psiquiatria Forense (USP). Atualmente, é pesquisador em Neurociências (UniLogos), com foco em populações vulneráveis e autismo. Membro SBMT.)
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