Grão de Areia: Quando o Amor Encosta, Mas Não Toca
Há paixões que parecem nos atravessar como um furacão silencioso. Sentimos a presença do outro, enxergamos nos olhos dele um universo de emoções, e ainda assim… não somos tocados. O poema Grão de Areia (o nostálgico), do meu livro Rosa Apaixonada, fala sobre isso. Sobre o quase. Sobre quando o amor parece pronto para acontecer, mas recua antes de encostar.
Grão de Areia (o nostálgico)
Em seus olhos eu vi
Um turbilhão de emoções:
Vi um rio correr para o mar
Despencar nos abismos
Chegar ao seu destino,
Tornar-se onda e a cada recuo
Reunir forças para uma nova partida…
E eu, um grão de areia
Iluminado pelos raios do sol,
Vi sua força terminar
Remanescente nessa praia
Sem me tocar…
O Orador que sente, mas não é sentido
“Em seus olhos eu vi / Um turbilhão de emoções”
O poema é narrado por quem ama com intensidade, observa com delicadeza, e percebe tudo. Essa sensibilidade é marca clara do traço Orador (Traço Oral): aquele que sente primeiro e pergunta depois. O Orador capta o que está nas entrelinhas, percebe paixões que nem chegaram a ser ditas.
“Vi um rio correr para o mar / Despencar nos abismos / Chegar ao seu destino”
Ele enxerga no outro uma história intensa, uma alma cheia. Mas o que machuca não é a intensidade do outro, é o fato de não ser incluída nesse movimento. O Orador quer ser a praia que acolhe a onda. Mas…
“E eu, um grão de areia […] sem me tocar…”
Aqui está a dor: foi quase, mas não foi. A emoção existiu, mas não se concretizou em ato. A paixão que ela viu nos olhos do outro não se traduziu em gesto, em toque, em reciprocidade.
O Realizador que se sente preterido
Por trás desse lamento do Orador, existe também a dor silenciosa do traço Realizador (Traço Rígido). Aquele que observa a onda indo e vindo, mas se pergunta: por que não eu?
O Realizador em dor sente que foi excluído da escolha, que o outro viu algo nele, mas preferiu não se aproximar. E isso ativa um ponto muito sensível desse traço: a sensação de que alguém melhor, mais digno, mais bonito ou mais certo foi escolhido no seu lugar.
Essa mistura de traços cria uma dor complexa: a dor de quem sente demais e a dor de quem é deixada de fora.
O quase amor também marca
Grão de Areia é um poema sobre o tipo de história que não vira história. Sobre a paixão que se mostra nos olhos, mas não chega à pele. Uma narrativa curta, mas carregada de camadas emocionais: a expectativa do Orador, a insegurança do Realizador e o vazio que fica quando o amor passa perto, mas não nos escolhe.
No meu livro Rosa Apaixonada, reuni poemas que trazem essas dores e belezas da alma feminina. Se você também sente que certos afetos te atravessam sem te tocar, talvez esse seja um espaço onde você possa se reconhecer.
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Eu sou Camila Lourenço Covre, especialista em desenvolvimento humano e linguagem comportamental. Acredito que a comunicação é a chave para decifrar a alma humana e construir conexões mais profundas. Se você se interessa por esses temas, acompanhe meu trabalho no Instagram: @camilaslourenco.


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