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Rosa Apaixonada: Entre o Tempo que Passa e o Amor que Não Chega

Nem toda rosa conhece o auge do florescer. Algumas passam pelo tempo de florir sem nunca serem tocadas pela estação do amor — e é disso que trata o poema Rosa Apaixonada, que dá nome ao meu livro. Fala do espanto silencioso de uma mulher que se vê amadurecer sem ter vivido aquilo que parecia natural às outras: o amor, o toque, o desejo correspondido. É uma poesia que fala do tempo passando, da juventude que escorre pelos dedos, e da beleza que resiste — mesmo quando marcada pela ausência de histórias que não chegaram a acontecer. Uma flor que, mesmo intacta, sente o peso do que não foi.

O perfil de quem sente demais

“Eu sou feita da terra. Apaixonada!”

Logo de início, o poema anuncia seu traço predominante: o Orador (Traço Oral), com sua entrega emocional e afetividade à flor da pele. O Orador sente profundamente, vive os vínculos com intensidade e tem como centro da experiência humana o afeto. Mas quando esse traço está em dor, tudo que era flor pode se transformar em espinho.

“Meus espinhos de rosa são as feridas / Que cravei nos corações dos amigos”

Essa imagem traz à tona um sentimento muito característico do Orador em dor: a ideia de que foi abandonado porque feriu. Ele acredita que sua intensidade, sua forma de amar ou de se doar, afastou as pessoas. O Orador teme não ser mais amado por aquilo que é — e, por isso, carrega a culpa como justificativa para o abandono que sente. 

“E minha alegria eu enterrei / Nas covas do meu sorriso.”

Essa imagem diz tudo. O riso virou luto. A alegria, lembrança. O Orador em dor sofre porque sente demais — e quando sente perda, sente profundamente.

A rigidez que se dobra diante do tempo

O poema também carrega uma camada sutil e delicada de um conflito clássico do traço Realizador: a tensão entre o desejo de se entregar e o medo de perder o valor ao fazê-lo. Em uma leitura simbólica e lúdica, vemos o retrato de uma rosa que, mesmo adulta, ainda é “pura” — uma referência à virgindade, mas também à resistência emocional que impede a entrega plena:

“Da rosa ainda me resta / Que assombro: a pureza!”

Essa pureza não vem como orgulho, mas como espanto. É o Realizador lidando com sua própria rigidez — com a ideia de que, para manter sua imagem idealizada, talvez tenha se preservado ao ponto de afastar pretendentes. Esse traço, quando em dor, teme se entregar e ser excluído ou preterido. Aqui, o poema dá voz a esse dilema, com beleza e honestidade.

“Cada ciclo que me embala recorda / Deste fértil terreno que é efêmero”

O Realizador (Traço Rígido) em dor é aquele que teme não ser mais admirado, que sofre com a passagem do tempo e com a perda da forma, da jovialidade, da imagem idealizada de si.

“Dos meus encantos nada saberei / Terei só lembranças de quem amei”

O Realizador em dor teme desaparecer. Não ser mais visto. Ser esquecido. E, aqui, essa dor aparece sutilmente: ela não grita, mas embriaga o texto com uma melancolia serena e profunda.

O valor da poesia que fala por quem não consegue dizer

Esse poema nasceu de mim, mas poderia ter nascido de tantas outras mulheres. Mulheres que já floresceram, já foram desejadas, já amaram e se entregaram — e sobretudo aquelas que temem se entregar (mesmo quando podem), e que hoje carregam consigo os rastros do tempo e da vida. Rosa Apaixonada é o nome do livro, sim, mas também é um nome possível para qualquer coração que já se partiu.

A escrita foi o meu espaço de regar essa dor com delicadeza. E talvez seja, para você, o espaço para reconhecer a sua própria dor com acolhimento.

Entre espinhos, ainda há flor

Rosa Apaixonada não é um poema sobre desistir. É um poema sobre continuar sentindo, mesmo quando o que se sente já não tem o mesmo brilho de antes. É sobre reconhecer a beleza na memória, a ternura nos rastros e a flor que, mesmo murcha, ainda exala perfume.

Esse é o convite do meu livro. Uma coletânea de poemas que caminham entre as dores e as potências dos traços, trazendo luz para aquilo que, muitas vezes, só conseguimos olhar no escuro. 

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Eu sou Camila Lourenço Covre, especialista em desenvolvimento humano e linguagem comportamental. Acredito que a comunicação é a chave para decifrar a alma humana e construir conexões mais profundas. Se você se interessa por esses temas, acompanhe meu trabalho no Instagram: @camilaslourenco.


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Criada em 2020 pelo professor e poeta Renato Cardoso, a Revista Entre Poetas & Poesias é um periódico digital dedicado à valorização da literatura e da arte em suas múltiplas expressões. Mais que uma revista, é um espaço de conexão entre leitores e autores, entre a sensibilidade poética e a reflexão cotidiana.

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