POESIA DA VIDA REAL
Acordar sem se sentir esgotado, firmão pra começar o dia, sentindo aquele cheirinho de café puro que acabou de passar, pão na chapa trincando, margarina. Sair sem pressa, caminhando pelo portão sem pensar na bronca que vai tomar por chegar atrasado. Hoje não! O busão encosta logo. Tu não precisou esperar muito no ponto e nem correr na doideira pra alcançar ele. Dá bom dia para o piloto e ele retribui com um sorrisão, daqueles de pensar que o mundo ainda tem jeito só porque tem gente legal desde cedo. Tem lugar pra sentar no ônibus. Trabalhar em paz, suave. Trabalhar sem covardia, po; geral quer trabalho digno, que dê pra pagar as contas e dar uma brincada no fim de semana. Almoçar comida quentinha ainda, com o feijão novinho e o arroz solto. Voltar pra casa vendo a luz do dia, sabendo que vai dar pra descansar chegando lá, que tá tudo tranquilo. As contas tão pagas. Sobrou um trocado na conta, dá pra pedir um lanche, sair pra trocar uma ideia depois. Se jogar no sofá de boa enrolando pra ir para o quarto, descansar por não ter que pensar muito. Tá passando aquela novela das nove que falaram que era boa, vou ver qual é. Cochilo no intervalo e acordo no último bloco. Deitar na cama sentindo que hoje fez o que tinha que fazer. Tá tudo correndo bem. Na hora de rezar tem mais motivo pra agradecer do que coisa pra pedir. Sempre tem. O dia a dia tem seus milagres, mas as vezes viver não deixa tempo de pensar. Quem tá na correria não escreve poesia.
Publicado originalmente em 29 de maio de 2024.
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