A Páscoa não chega com barulho. Ela se aproxima devagar, como quem respeita o tempo do coração. Vem no cheiro do pão feito em casa, na oração murmurada antes de dormir, no reencontro tímido com a fé que parecia distante. Há uma delicadeza no jeito como ela toca a alma — não exige, não força. Apenas convida
Mais do que data no calendário ou tradição familiar, a Páscoa é um retorno ao essencial. É quando somos lembrados de que o amor é mais forte que o medo, que a luz resiste mesmo quando o céu parece fechado, e que a vida — apesar das dores — insiste em florescer.
Cristo, na sua humanidade ferida, nos ensina que não há caminho para a glória que não passe pelo chão. Ele não evitou o sofrimento, não pulou a dor. Viveu cada momento — a solidão do Getsêmani, o abandono, a cruz. Mas também viveu a ternura, o perdão, o cuidado. Em silêncio, respondeu com amor ao que o mundo oferecia com violência.
E talvez seja isso que mais nos toca: um Deus que entende o que é sofrer. Que chora, que cai, que sangra. Um Deus que abraça nossa condição humana sem reservas — e por isso mesmo, transforma. Porque Ele viveu tudo isso, pode agora nos ensinar que nossas cruzes não são castigos, mas travessias. Que cada perda pode se tornar semente. Que a dor, quando acolhida, pode gerar compaixão.
A Páscoa, então, não é mágica. É milagre. E milagre tem outra lógica: não acontece de fora para dentro, mas de dentro para fora. É quando o coração, ferido, ainda assim escolhe amar. É quando a gente perdoa sem entender, segue sem ter todas as respostas, acredita mesmo cansado.
É quando olhamos nos olhos do outro e enxergamos, de novo, a possibilidade do bem.
Na correria dos nossos dias, esse milagre pode parecer pequeno. Mas ele é tudo. É o que mantém a humanidade de pé. É o que nos faz recomeçar.
Que nesta Páscoa, cada gesto simples — uma palavra de afeto, um abraço demorado, um silêncio cheio de presença — seja expressão desse renascimento que não precisa de palco, mas que muda o mundo.
Porque o Cristo ressuscitado continua passando por entre nós. Nos olhos das crianças. Na força dos que cuidam. No pão partilhado. Na vida que segue. E segue bonita.
Feliz Páscoa. Que o milagre da vida nova aconteça aí dentro de você — do jeito mais suave, mais humano, mais verdadeiro possível.
Gostou?! @professorrenatocardoso


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