Abri o armário e vi uma fotografia antiga. A cor era aquela meio amarelada que meu pai disse um dia ser chamada sépia. A imagem impregnada no papel corroído de baratas mostrava pessoas desconhecidas. Eram mulheres e homens austeros. Elas de coques repuxados que faziam seus olhos e sobrancelhas ficarem mais oblíquos. Eles traziam pendurados em seus rostos enormes bigodes a esconderem seus sorrisos.
Nunca entendia por que gente antiga tinha cara séria. Seria o cansaço da lida diária? O momento da foto era uma oportunidade de descanso para os seus corpos. E as feições? Essas precisavam mostrar a seriedade das cabeças que elas revestiam. Daí os olhares fixos. Os lábios cerrados, as testas ligeiramente franzidas.
Parece que o mundo antes do imaginado por mim era monocromático, porém natural. Com muitas guerras, contudo seguro. Havia mais certezas que nos tranquilizavam a despeito da demora para revelar uma foto analógica. Era uma espécie de ansiedade boa a nos moldar perante descobertas e desafios maiores.

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