Era um outono na minha cidade. Sempre achei essa época meio sem graça. O calor deixa de ser abrasador para ficar sufocante. Não sou planta, mas imagino a mim perdendo a clorofila, ficando desbotado. A raiva chega e fico vermelho, porém um vermelho fraco caindo amarelo. É a anemia causada pela falta de energia. As tardes ficando cada vez mais curtas e trazendo as noites mais silenciosas com cheiro de flor fora de primavera.
Uma dama exala seu perfume na escuridão. Não sei quem é. Ela, cada vez mais perto e mais invisível. Quero navegar nesse cheiro. Volto para casa impregnado. Deixo a mochila na cadeira da sala, vou limpar mãos no lavabo.
Avental amarrado, água no fogo! Macarrão cozido. Temperos salpicados. Um prato fundo desapareceu sobre a mesa. A taça de suco de uva está vazia. Os pés na banqueta e um vídeo a minha frente. falavam da vida alheia. Desisti. Espadas e sague iriam manchar minha noite. Nada de armas! Campeonato de luta livre! Fui abatido. Fiz um curativo com folhas caídas da minha estante. As cicatrizes foram fechadas. Estas são as linhas a me costurar nas cores quentes e mornas. Elas me guiam na próxima estação, que deveria ser fria e branca, sem folhas, com ventania. Nada disso. O calor por estas bandas é perene como é minha vontade de escrever depois da hibernação.

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