Os donos da casa saíram. Ficaram a sós naquele quarto, estavam ali, frente a frente: o Computador e um antigo Livro sobre a História das Civilizações.
Aproveitando o silêncio do recinto, o Computador começou:
– Ah…pobre Livro! Logo, logo você será dispensado! Sabe como é, não é? Aquela faxina que nossa dona sempre faz todo final de mês. -disse em tom desafiador.
– Estou nesta casa há muitos anos. Já passei por várias faxinas. Isso não me preocupa, muito ao contrário! Todas às vezes que ela chega à estante, pega-me com muito carinho. Relê a dedicatória, fica deveras emocionada e aperta- -me contra o peito! – respondeu o Livro suspirando e envaidecido.
– Sim, de fato, já presenciei tal cena algumas vezes. -retrucou com desdém. -O que está escrito aí? – quis saber o Computador.
– Ora, é claro que não lhe direi! Isso é uma intimidade que não lhe diz respeito, porque sou um presente dado pelo pai dela! –contestou orgulhosamente o grande Livro.
– Sua arrogância é desprezível! Será que você não percebe que seu fim será às traças?! Sem contar a quantidade de hifens e tremas que estão em desuso após o mais recente acordo ortográfico! Não sei como os humanos podem, ainda, usar livros de papel! –debochou o Computador.
– Pois fique sabendo que está em primeiro lugar no “ranking” de presentes inteligentes! Sem mencionar o público intelectual…
A discussão foi interrompida com a chegada dos proprietários da residência, e ambos ouviram a dona ao telefone adentrando o quarto:
– …Sim, vou trocar o meu computador que ficou obsoleto, comprei outro hoje!
O Livro olhou sorrindo para o Computador que permaneceu completamente desligado!
Ivone Rosa
@profaivonerosa
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