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Bilinguismo na contemporaneidade: da infância sonhadora às portas do mundo

por Renato Cardoso

Vivemos tempos em que os muros caem e as pontes se multiplicam. A linguagem, que sempre foi território de encontros e desvios, agora se abre ainda mais: é pela palavra que atravessamos fronteiras, que acolhemos o outro, que nos reconhecemos plurais. Nesse cenário, o bilinguismo se apresenta não como um luxo, nem tampouco como moda passageira, mas como necessidade e potência. Falar duas línguas é, antes de tudo, acessar duas formas de habitar o mundo.

O bilinguismo nasce, muitas vezes, lá no início da vida escolar, quando as crianças ainda misturam imaginação e descoberta. É nesse momento em que aprender a ler e escrever se entrelaça com o desejo de nomear o mundo, que o contato com uma segunda língua pode ser semeado com leveza e encantamento. E o que brota disso é um desenvolvimento que ultrapassa o linguístico: amplia-se a cognição, fortalece-se a memória, aguça-se o pensamento crítico.

Mais do que ensinar outro idioma, educar para o bilinguismo é criar pontes entre línguas sem demolir as raízes da língua materna. As duas devem caminhar juntas, se alimentando mutuamente. Quando essa construção é feita com cuidado e intencionalidade pedagógica, o resultado é uma criança que transita com naturalidade entre códigos diferentes, que entende o valor das palavras e a beleza da diversidade.

Os estudos não deixam dúvidas: crianças bilíngues costumam apresentar maior flexibilidade mental, mais facilidade para resolver problemas, além de uma percepção mais apurada da linguagem como ferramenta de expressão e compreensão. Mas há algo além das estatísticas: há o brilho no olhar de quem entende que falar outra língua é poder brincar de ser múltiplo, é escutar o mundo com outros ouvidos.

Conforme os anos passam e a infância dá lugar à adolescência, o bilinguismo amadurece e se torna também uma chave para oportunidades concretas. Exames de proficiência, como Cambridge, TOEFL e IELTS, surgem nesse percurso como marcos que atestam um caminho percorrido com dedicação. São mais que certificados: são portas que se abrem para intercâmbios, bolsas, universidades no exterior, e para um mercado de trabalho que valoriza quem sabe dialogar com o mundo.

Contudo, reduzir o bilinguismo a uma vantagem profissional seria empobrecer sua essência. Ele é, acima de tudo, um gesto de escuta. Ao aprender outra língua, aprendemos também outras culturas, outras histórias, outras formas de ver a vida. Formamos jovens mais empáticos, com uma consciência mais ampla do que significa viver em sociedade — não apenas local, mas global.

O sucesso de um programa bilíngue depende de muitos fatores: um currículo bem estruturado, professores preparados, materiais significativos e uma avaliação que valorize o processo, não apenas o resultado. Mas há algo ainda mais importante: é preciso envolver as famílias nessa jornada, mostrando que o bilinguismo não é uma sobrecarga, mas um presente que se desdobra com o tempo.

Uma abordagem pedagógica que tem se destacado é o CLIL (Content and Language Integrated Learning), que propõe ensinar conteúdos escolares por meio da segunda língua. Com isso, o idioma deixa de ser estudado de forma isolada e passa a ser vivido. O aluno aprende ciências, história, arte ou matemática em inglês (ou outro idioma), e a língua se torna meio e fim, prática e conceito, forma e conteúdo.

Vale lembrar que o acesso ao bilinguismo ainda é, infelizmente, desigual. Muitas vezes restrito a determinadas realidades socioeconômicas, ele precisa ser pensado como direito — e não como privilégio. Ampliar esse acesso é também uma forma de democratizar as possibilidades futuras de nossos estudantes. Educar em duas línguas é, nesse sentido, também um gesto político: um investimento em inclusão, em mobilidade, em cidadania.

Ser bilíngue, ao fim e ao cabo, é carregar duas vozes dentro de si. É poder traduzir o mundo — não apenas de uma língua para outra, mas da palavra para a experiência, do som para o significado. É ver a si mesmo sob outros ângulos, é perceber que há sempre mais de uma maneira de dizer, de pensar, de sentir.

Quando um estudante começa a aprender uma segunda língua na infância e, anos depois, conquista uma certificação internacional, o que se vê não é apenas uma conquista pessoal. É a materialização de um percurso educativo que respeita o tempo, valoriza a diversidade e acredita no poder transformador da linguagem.

O bilinguismo, portanto, é mais que uma habilidade. É uma travessia. E quanto mais cedo começamos a caminhar por ela, mais chances damos aos nossos alunos de se tornarem cidadãos do mundo — conscientes, preparados e profundamente humanos.


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