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O samba e os outros

O SAMBA E OS OUTROS

Os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro são considerados por muitos “o maior espetáculo audiovisual a céu aberto e ao vivo do planeta”. Talvez a afirmação contenha um pouco de exagero, mas não se pode deixar de louvar o que é feito todos os anos na Marquês de Sapucaí. O Brasil, em seus diversos matizes religiosos, étnicos, naturais, históricos e culturais é mostrado para todos, todos os anos, na Passarela, por meio de alegorias, fantasias e sobretudo, pelo samba, matriz e raiz do espetáculo que nos ensina muito sobre o Brasil durante o carnaval.

Por isso, durante o tríduo momesco, o gênero, nascido na pequena África, no início do Século XX, e renovado no Estácio, na década de 1930, pontifica e domina o território musical carioca e brasileiro. Em justa homenagem, de vez em quando, grandes nomes do samba são transformados em enredo pelas escolas do Rio de Janeiro. Zeca Pagodinho teve sua vida esmiuçada na Passarela dos Desfiles pela Grande Rio, em 2023, mesmo ano em que o Império Serrano louvou um de seus mais diletos filhos, Arlindo Cruz.

Nelson Cavaquinho, quando se comemoravam os cem anos de nascimento do compositor de A flor e o espinho (com Guilherme de Brito), em 2011, foi o tema da Mangueira, e Noel Rosa, o da Vila, um ano antes, no centenário de nascimento do genial compositor de Três apitos. A agremiação, aliás, muito justamente, homenageou o seu mais importante componente em 2022, o compositor Martinho José dos Reis, tão ligado a ela, que adotou o nome da escola como seu.

Mas nem só os grandes baluartes do samba viram enredo nos desfiles. Vendo a justa e emocionante homenagem feita este ano a Milton Nascimento pela Portela, lembrei-me dos nomes da música popular brasileira, não especificamente sambistas, que foram tema dessa e de outras escolas de samba do Rio de Janeiro.

A Mangueira, por exemplo, já levou para o sambódromo uma constelação de artistas da MPB. Já tiveram suas vidas e obras mostradas na avenida Dorival Caymmi, 1986, famoso por suas dolentes canções praieiras, Braguinha, 1984, o gênio das marchinhas e letrista do Carinhoso, com Pixinguinha, homenageado pela azul e branco de Madureira, em 1974. Chico Buarque, patamar máximo da letra-poesia cantada, foi, em 1998, glorificado em verso e prosa na avenida, assim como aconteceu em 2016 com a eclética e performática Maria Bethânia, que já tinha sido homenageada, aliás, em 1994, junto com os parceiros tropicalistas Gil, Gal e Caetano. O maestro soberano da bossa-nova, Tom Jobim, também foi enredo da verde-e-rosa, em 1992, como viria a ocorrer com a Marrom Alcione, no ano passado.

A Beija-flor prestou homenagem ao Rei da Jovem Guarda, Roberto Carlos, em 2011. A escola de Nilópolis apresentou, ainda, na ópera popular do carnaval, a soprano Bidu Sayão, em 1995. A Grande Rio, em 2017, mostrou na passarela a explosão da música baiana personificada por Ivete Sangalo, um ano depois de a Imperatriz Leopoldinense derramar na avenida a trajetória dos sertanejos Zezé di Camargo e Luciano.


A lista é interminável, e certamente deixei de citar alguns (muitos?) nomes do samba ou da MPB que viraram enredo das escolas do Rio de Janeiro. A intenção deste breve e singelo textinho foi mostrar que, até na escolha dos homenageados em seus desfiles, as agremiações carnavalescas cariocas são democráticas e versáteis, e abrangem, no Maior Show da Terra, tendências musicais diversas, como é o gosto do povo brasileiro, eclético e plural. Num país de memória curta, as Escolas de Samba prestam inestimável serviço à cultura do país, louvando os maiores nomes da melhor música popular do mundo, a brasileira, em qualquer que seja o gênero.


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