UM CACHORRO CHAMADO CACHORRO
A mulher me perguntou como que era o nome. Não tem nome, falei. Ué, mas será que ele não tem dono? Não sei, ele fica aqui comigo. E você chama ele como? De cachorro mesmo, só. Não entendi bem o problema; ele precisava ter nome? Eu tenho nome e tem tempo que ninguém chama. Serve pra nada. Agora bicho precisa de nome? A conversa não andava, mas a mulher também não saía da minha frente, em pé, tapando o sol que batia na calçada. Mas não tão perto de mim, mais perto do cachorro. Ela insiste: o bichinho tá magro, e nessa rua deve dar muito bicho, isso aí na costelinha dele parece carrapato, tadinho. Não respondi mais nada, voltei a olhar pra beira da rua, com o sinal fechando e mó cambada atravessando. Quase me perco vendo as pessoas vindo, até que ela fala de novo. Se eu te der um dinheirinho você compra ração pra ele? Tem ali na outra esquina. Que?. Ração, comida de cachorro, tem uma loja a duas ruas daqui. Tá, pode ser. Mas não é pra comprar bebida, hein. Tá bom. Ela me deu umas duas notas. Estiquei a mão pra pegar da dela. Ela soltou o dinheiro antes da minha mão chegar. Tomara que ele ache o dono logo, ela voltou a falar. É, respondi. Mas tem que cuidar enquanto isso. Tá bom. Vou lá, prazer em conhecer o senhor. Ia responder que o prazer era meu, mas ela já tinha saído. Continuei sentado com meu cachorro. Não acho que sou dono dele. Tô nem sendo dono de mim. Mas ele fica comigo o dia todo, dorme no papelão e sobe na carrocinha. É meu companheiro. Gosto do cachorro. Comprei dois varejo pra passar o fim de tarde, tô com o isqueiro pegando aqui ainda. Me ajuda a pensar. O cachorro tá dormindo. Mais tarde vou conseguir comprar um podrão ainda, dou o tomate para o cachorro. Ele gosta. Eu não ligo muito.
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