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INEXPLICÁVEL

Aconteceu em uma sexta-feira, aproximadamente, às dezessete horas. Entrei no supermercado do centro da cidade. Fui comprar pequenas coisas para a sobremesa do final de semana.

Não peguei o carrinho porque seriam três produtos no máximo. Seriam… como de costume; não resisti à promoção dos morangos, o preço muito em conta dos guardanapos de folha dupla e o baixíssimo valor da laranja-lima-da-pérsia!

Naquele momento, eu precisava ser uma centopeia para segurar tantas coisas até o caixa. Ainda assim, caminhei cautelosamente para a fila menor. Havia duas pessoas na minha frente e, antes que eu pudesse colocar minhas compras sobre o balcão, o saco com as laranjas abriu no fundo!

Senti meu rosto esquentar com tamanho constrangimento! Um senhor da fila preferencial rapidamente recolheu todas elas numa agilidade invejável. Agradecida, permiti que ele passasse à minha frente com suas compras. Notei que no carrinho dele só tinham duas malas de água natural.

Discretamente, observei os detalhes: vestia calça jeans, camiseta branca e um calçado bem diferente, que parecia uma bota em formato de tênis na cor cinza e sem cadarço. Ele falou algo que não entendi, mas pude perceber que sua voz era idosa, grave e agradável. Suas mãos não eram marcadas por rugas, bem como o seu rosto. Um verdadeiro contraste com sua voz e os cabelos grisalhos.

Fiquei impressionada com o azul-violeta de seus olhos! Certamente deve ser um europeu, pensei. Rapidamente, ele ensacou todas as mercadorias, inclusive as minhas, separando os morangos. Resolvi puxar assunto:

– O senhor deve cozinhar, pois não é comum esse cuidado…

Sua resposta foi demorada, como se estivesse com dificuldade para entender o que eu dizia.

– Raramente – sorriu – Onde moro, essa é a menor preocupação.

A voz transmitia uma inacreditável calma! Além da simpatia natural. Eu estava meio sem jeito de insistir com uma conversa banal com aquele senhor alto, magro e extremamente gentil.

– Qual a maior? Desculpas pela minha curiosidade. -falei com certa timidez.

– A água! Vocês são muito ricos e não cuidam dessa fortuna. – afirmou com mansidão na voz.

Atravessamos a rua, caminhamos falando sobre receitas culinárias, pelo calçadão à beira-mar. Ele não demonstrava nenhum sacrifício em carregar as pesadas sacolas. Sugeri dividir o peso, porém aquele idoso possuía uma força incomparável.

Já estava convicta de que ele era um europeu e queria perguntar várias coisas acerca de sua terra natal, quando uma densa neblina tomou conta de todo o local. Ficou difícil até para enxergar outras pessoas que caminhavam em sentido oposto.

Percebi uma série de luzes à minha direção e um som semelhante à campainha, sobretudo, muito suave. Foi num piscar de olhos que a neblina sumiu e o senhor desapareceu! Fiquei atônita com a situação. Nem se quer lhe chamar pelo nome, não houve tempo para as apresentações.

Minhas duas sacolas?! Também desapareceram com ele! Teria sido um sequestro? Como?! Não ouvi gritos ou um automóvel… e os bandidos?! Todas as dúvidas foram esclarecidas no momento em que olhei para o alto: uma grande nave em forma de disco resgatara o meu recente amigo! Não lamentei pelas pequenas compras, e sim a falta de oportunidade de conhecê-lo melhor. Busquei outros olhares curiosos, as pessoas caminhavam alheias ao ocorrido. Fiquei estarrecida quando olhei o relógio de pulso, eram aproximadamente dezessete horas.

Ivone Rosa

@profaivonerosa

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