Já se sentiu como um estrangeiro mesmo estando em casa? A sociedade nos ensina que pertencemos a certos lugares, grupos e ideias, mas e quando nada disso parece enquadrar? Quando as normas, expectativas e padrões ao nosso redor não refletem quem realmente somos? Essa sensação de deslocamento pode nos tornar estrangeiros sem nunca termos saído do lugar.A palavra estrangeiro geralmente é associada a alguém que está fisicamente longe de seu país de origem. No entanto, seu significado vai além da geografia e pode representar uma sensação de não pertencimento. Ser estrangeiro pode significar estar cercado por pessoas e, ainda assim, sentir-se perdido, como se falasse uma língua diferente da delas, ainda compartilhando o mesmo espaço. Quando alguém não se encaixa nas normas impostas pela maioria, essa alienação se torna inevitável. Vivemos em um mundo onde as regras e padrões são definidos por outros, e a vida, indiferente a tudo isso, segue seu ciclo. No entanto, a necessidade de pertencer, nos força a nos moldarmos, muitas vezes à custa da nossa própria identidade. Porém, no fundo, todos somos portadores de uma diferente personalidade ou seja, todos, em algum nível, possuem aspectos únicos que nos afastam da norma. E devemos aceitar a diferença como um símbolo de ser humano.
Essa sensação de ser um estrangeiro pode surgir em diversos aspectos da vida. No ambiente familiar, quando nossos pensamentos e sentimentos se diferenciam dos valores daqueles ao nosso redor, nos tornamos estranhos dentro de casa. Na escola e no trabalho, a pressão para se encaixar em padrões preestabelecidos nos força a esconder partes de quem somos, temendo a exclusão. A sociedade, por sua vez, impõe normas de comportamento, sucesso e até mesmo de emoções, transformando a diferença em algo indesejado. Franz Kafka retratou essa alienação em suas obras, como A Metamorfose, onde Gregor Samsa, ao se tornar um inseto, simboliza aqueles que são diferentes e excluídos por não atenderem às expectativas do mundo. E no livro “O Processo”, também de Franz Kafka, a opressão de um sistema incompreensível reflete como as regras impostas podem nos tornar estrangeiros dentro da própria realidade. No fim, talvez o problema não seja a diferença em si, mas como ela é percebida. Se todos são, em algum nível, portadores de uma personalidade, então o verdadeiro pertencimento não deveria exigir a negação de quem somos, mas a aceitação de nossa própria identidade.
Essa constante sensação de não pertencimento pode ter um impacto profundo nas pessoas. Quando alguém sente que precisa esconder aspectos essenciais de si para ser aceito, surge um conflito interno que gera ansiedade, insegurança e, muitas vezes, um profundo isolamento. A necessidade de se encaixar nos moldes impostos pode levar à perda da autenticidade, fazendo com que muitos vivam como versões desfeitas de si mesmos, temendo o julgamento da maioria. A longo prazo, essa pressão pode resultar em um grande esgotamento emocional, onde a busca por validação externa se torna uma prisão invisível. O medo de ser visto como um estranho ou um “estrangeiro” pode levar à conformidade, mas também à frustração e ao sentimento de vazio, enfrentando solidão e questionamentos constantes sobre o próprio valor. Entender essa dinâmica é essencial para enxergar que a verdadeira aceitação não está em se encaixar, mas em reconhecer que ninguém pertence completamente a lugar nenhum e que isso não precisa ser uma fraqueza, mas sim uma prova da complexidade e singularidade.
Enfrentar essa sensação de não pertencimento não significa buscar desesperadamente a aceitação dos outros, mas sim aprender a aceitar a si mesmo. O primeiro passo é reconhecer que ninguém se encaixa perfeitamente em todas as expectativas sociais e que isso não é um defeito, mas uma condição natural da existência. Em vez de se moldar para se sentir incluído, é preciso valorizar aquilo que nos torna únicos e encontrar espaços onde essa singularidade seja respeitada. Construir conexões autênticas é essencial. Relacionamentos baseados na compreensão e no respeito ajudam a dissolver a sensação de isolamento. Cercar-se de pessoas que aceitam e celebram a diferença faz com que a necessidade de se encaixar perca força. Além disso, expressar-se verdadeiramente seja através de uma arte, de uma escrita, de um estilo de roupa ou de qualquer outro meio permite que nossa identidade ocupe um lugar no mundo sem precisar ser reprimida.
A solução não está em eliminar a sensação de ser um “estrangeiro”, mas em significar ela. Todos, em algum momento, se sentirão deslocados, mas isso não precisa ser um fardo. Aceitar a própria individualidade e enxergar a diferença como parte da experiência humana é o caminho para transformar essa alienação em liberdade consigo mesmo. Afinal, ninguém pertence completamente a um só lugar e é nessa complexidade que reside a verdadeira felicidade.
(Esse texto é de Augusto Cézar Azevedo, com bases do texto “Absurdismo”. Augusto é de Minas Gerais, é estudante do ensino médio e escritor iniciante)
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