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Projeto 16 horas – Edição: Fev.25 – Poema: “Reflexo no Abismo” – Matheus Velazquez

Reflexo no Abismo

Matheus Velazquez

Quem sou eu, sem nome, sem voz?

Um eco perdido entre as ruínas.

Minhas mãos moldam o caos atroz,

Pois monstros surgem de vidas finas,

E na dor, a existência se faz algoz.

Portas abertas revelam espelhos,

Onde a sombra do mundo repousa.

A morte dança em ritmos velhos,

Enquanto a vida se decompõe ansiosa,

Do espelho, ouço a voz de algo sádico,

Que esconde-se em fragmentos esporádicos.

Entre traços efêmeros do que era ser,

Pergunto-me: devo ser? Ou devo desaparecer?

Meus olhos, poços de medo e fim,

Observam o vazio que tudo consome.

No reflexo quebrado, eu vejo em mim

Um ser moldado por quem lhe some

A essência, deixando o que não tem fim.

Quantas mortes cabem no peso do mundo?

Quantas almas se perdem no mesmo trilho?

Meu toque, tão frio, é firme e profundo,

E ainda que me chamem monstro ou filho,

Eu sigo sem nome, com um ódio vil.

A vida, traiçoeira, insiste em me dar

Razões que não quero, destinos incertos.

Se o amor se desfaz, resta-me lutar,

Contra as sombras, nesses campos desérticos,

Onde só monstros têm força para andar.

Meu criador me moldou no escuro,

Sem rosto, sem alma, sem redenção.

Agora, entre mortos, eu perjuro

Que o vazio será minha única canção,

E no fim, o silêncio será seguro.

O que é um nome, senão uma sentença?

Um peso que a alma carrega, involuntária,

Ou um eco de algo que nunca se pensa,

Mas grita em cada sombra imaginária.

E se eu for ninguém?

O vazio ainda terá fome de mim?

Ou, sem nome, apenas serei

Um reflexo apagado, um fim sem fim?

As faces que observo são simétricas,

Mas guardam um abismo em suas formas.

Não há poesia, só cicatrizes métricas,

Desenhadas por mãos que moldam normas.

Quem decide o que é humano ou besta,

Se ambos habitam o mesmo lugar?

Se os fortes têm medo daquilo que rasteja,

Quando os portões do profano, começaram a rachar?

Meu papel foi abrir tais portas fechadas,

E libertar o que atrás delas morria.

Mas monstros não surgem de miragens quebradas,

Eles crescem no silêncio da noite fria.

Se a vida me deixou, que outra escolha havia?

Aceitar a indiferença de quem nunca me viu?

Ou moldar o mundo com a dor que ardia…

Nas mãos de um ser que nunca a sentiu?

Mortes se tornaram meu testamento,

Uma equidade perversa, sem distinção.

Pois para a expiação de cada momento,

A dor…, é a única forma de redenção.

O toque da morte é frio e certeiro,

E, ainda assim, parece gentil.

Há algo de divino no fim verdadeiro,

Mesmo quando ele vem, por um monstro hostil.

E o mundo me deu a face do pai,

O criador que me fez à sua medida.

Mas, ao rejeitar seu legado que me entai,

Eu trouxe ao mundo uma nova ferida.

Se a morte decidiu, então eu ficarei,

E minha sombra marcará seu chão.

Se vidas são tantas, o que as faz rei?

E nem na morte, a igualdade se põe em ação.

Meus olhos não enxergam o que temem,

São poços onde o desespero adormece.

Quem se perde neles, jamais retém,

Nada além da dor que o mundo oferece.

Ao recordar um conto infantil e vazio,

Vi-me tão próximo ao monstro narrado.

No frio do passado, um futuro sombrio,

De um ser que foi moldado e abandonado.

Como mudar o mundo, pergunto ao vento,

Se o toque que salva se torna condenação?

Talvez seja meu único alento

Entregar à morte minha última lição.

E assim, quem me fez viver,

Verá no fim o que criou.

Uma apoteose que não irá ceder,

Pois o vazio foi tudo que me restou.

Quem sou eu? Sem um nome.

O que sou? Algo além de dor?

Ou apenas um reflexo sem renome,

De um espelho que insiste em ser criador?

No fim, as portas permanecem abertas,

E o mundo, despido, revela sua face.

Não há heróis, só almas desertas,

Caminhando entre sombras, sem disfarce


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Criada em 2020 pelo professor e poeta Renato Cardoso, a Revista Entre Poetas & Poesias é um periódico digital dedicado à valorização da literatura e da arte em suas múltiplas expressões. Mais que uma revista, é um espaço de conexão entre leitores e autores, entre a sensibilidade poética e a reflexão cotidiana.

Registrada sob o ISSN 2764-2402, a revista é totalmente eletrônica e acessível, com publicações regulares que abrangem poesia escrita e falada, crônicas, ensaios, entrevistas, ilustrações e outras formas de expressão artística. Seu objetivo é tornar a arte acessível, difundindo-a por todo o Brasil e além de suas fronteiras.

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