Certa noite, meu filho de apenas dois anos estava em um sono profundo. Meu esposo e eu, como pais encantados com a cria que somos, ficamos observando nosso bebê dormir e o ouvimos dar uma gargalhada gostosa e ecoante pelo quarto que estava silencioso.
Nós rimos de forma emocionada e cochichamos entre nós:
– Gostaria de saber o que se passa nos sonhos dele – disse meu esposo.
E eu sorri dizendo que também tinha essa curiosidade.
Em seguida ouvimos nova gargalhada e uma fala: – Papai! – seguida de mais risada.
Eu falei baixinho:
– Satisfeito papai, eis com o que ele tá sonhando tão feliz, com você!
Nem preciso dizer que ele ficou com os olhos marejados e foi dormir maravilhado em saber que sua presença permeia os sonhos do nosso pequeno.
Bom, toda essa narrativa real me fez refletir também sobre as nossas vidas…
Há quanto tempo os nossos sonhos não ultrapassam a barreira da sua mente e fazem você verbalizar, sentir e ecoar o que de bom vem do sonhar?
Quando crianças, a candura, a simplicidade e a pureza nos fazem resplandecer, nos fazem sentir sem armaduras, sermos transparentes a ponto de transpassar barreiras entre o sonho e a realidade de forma tão sutil, que tudo se torna leve.
Conforme vamos amadurecendo, parece que essa porta se fecha, este liame e trânsito direto entre o lúdico e o corpóreo real esmaece, endurece, escurece, se distancia, de tal forma que se faz esquecer, desaparecer…
A maturidade nos traz rigor, cansaço, ansiedade, fugacidade, peso mental e nos tira essa capacidade do encontro sinestésico do sonho ultrapassando barreiras e chegando à vida real.
O som que se ouve de uma pessoa adulta a dormir são roncos, as vezes gritos de susto ao acordar de um pesadelo, e quase sempre o ranger da cama por um sono leve ou agitado pela insônia.
Não podemos voltar no tempo e sermos criança novamente, mas que busquemos incessantemente essas portas trancafiadas, escurecidas e empoeiradas que fazem os sonhos e sentimentos transpassarem barreiras e demonstrarem pro mundo a beleza do sonhar, de sentir além de todas as camadas que nos blindam entre o que apreciamos internamente na tela do sonho e o que esboçamos, sonorizamos e vivemos na vida real.
Este caminho nos traz a pureza e leveza de encontrarmos com nossa criança interna escondida e adormecida por tantos anos… desta forma poderíamos chamá-la pra ser mais de nós, e nós menos desse mundo tão petrificado e metrificado, cheio de medos e regras que ultrapassam o liame entre viver sob a dura égide da sociedade e viver de forma saudável em sociedade.
Michelle Carvalho
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