Sempre ouvi dizer que, em cidades pequenas, todas as pessoas se conhecem e há personagens icônicos, os quais dão sabor ao local. Em oposição, o Rio de Janeiro, como qualquer metrópole, estaria marcado pelo anonimato, o individualismo e o corre-corre. Acontece que, justamente por ser tão grande, nossa cidade comporta diversos microcosmos, onde cabem figuras peculiares.
Moro num dos dez bairros mais populosos do país, segundo uma notícia de 2024 baseada no Censo de 2022. Ainda assim, é possível identificar ilhas de convivência parecidas ao nosso imaginário de localidade interiorana. Na minha opinião, três fatores contribuem para isso: várias ruas arborizadas com pouco movimento, pequenos comércios, cujos atendentes criam proximidade com os fregueses, e o fato de diversos moradores se reconhecerem, cumprimentarem e gastarem um tempo em bate-papos nas feiras, lojas, calçadas ou praças.
Nesse contexto, embora muito se tenha perdido com o passar dos anos, ainda vemos o pipoqueiro da minha adolescência, que já não grita seu pregão, “Olha a jaaaantaaa”, mas continua firme a forte. Também há os vassoureiros e o rapaz da bicicleta do pão doce se anunciando com uma buzina gozada. Entre os muitos catadores, outros indivíduos frequentes no bairro em dias de coleta de lixo, destaco um. Eu não sabia seu nome até esta semana, porém, era impossível passar por ele sem responder ao seu cumprimento bem-humorado: “Bom dia! Bom te ver.”. Seu carisma, opino, foi capaz de nos impulsionar a cumprimentá-lo por iniciativa própria, não apenas como reação à sua saudação.
Fazia um tempo não o via. É verdade que, com o calor, tenho saído pouco. Contudo (aí está meu pesar), nem me tinha dado conta do fato, até meu marido dizer que ele havia morrido. Entendi, então, sua ausência e a lamentei. Achei pertinente perguntar o seu nome. A resposta foi: “Luiz” (imaginem, como meu avô materno e um grande amigo de faculdade), “vulgo Bananada”.
Nada sei sobre o Bananada, além de ele trabalhar como catador, regularmente presente na rua com seu carrinho de mão e cachorro, recolhendo recicláveis. Suponho que o apelido viesse de uma atividade profissional anterior, ou de seu gosto pelo doce. O mais significativo, porém, era seu sorriso, seu estar de bem com a vida, sua gentileza com os demais. Isso o destacava e eliminava uma possível invisibilidade. Era, enfim, um daqueles personagens que compõem a cena do lugar e deixam saudade. Portanto, me despeço simbolicamente dele, imaginando por quais esferas vagará, distribuindo seu dom de cordialidade. Boa noite, Luiz Bananada. Bom ter te visto!


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