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Plantador de sonhos

O inverno chegou por aqui. Na verdade, é a quadra chuvosa, mas chamamos de inverno. Para o sertanejo, inverno não significa frio, mas chuva. É a chuva que lava a alma e o sertão; que anima o espírito do agricultor, do vaqueiro, da fauna e da flora.

            Enquanto escrevo, está caindo uma chuvinha mansa, molhadeira, daquelas que se infiltram na alma da terra. Daqui vejo, pela janela, a biqueira escorrendo e escuto o cantoralar da chuva. Só quem valoriza a chuva conhece esse cantar. Um cantar suave, agradável, que mais parece um sussurro.

            Vendo e ouvindo tudo isso, me fez retornar ao passado, quando eu ainda era um lavrador. O inverno era a mais esperada das estações. À noitinha, costumávamos ficar no terreiro, espiando se víamos algum relâmpago para os lados da praia. E quando a chuva chegava, papai dizia: “Amanhã vamos plantar”. E logo de manhãzinha saíamos de enxada no ombro e semente em um saco rumo ao roçado.

            Pois é, caro leitor, já fui agricultor. Já fiz de tudo que se faz em um roçado, desde menininho. Já plantei milho, arroz, feijão, algodão… semeei e colhi. Quem planta, colhe, já diz o ditado. E é verdade. Às vezes não colhemos, pois acontece de faltar chuva, e a plantação morre. Tem a formiga que corta; a lagarta que come, enfim. Mas geralmente colhemos.

            Hoje sou plantador de sonhos. Sou professor, escritor, cordelista. Já não planto mais com enxada, mas com caneta, pincel, papel… Por meio de minhas aulas e meus escritos, planto sonhos. Eu os planto porque um dia alguém semeou a leitura e a escrita no solo fecundo do meu ser e me encheu de sonhos. E deu frutos. Desses frutos que alimentam a alma e nos iluminam. Desses frutos que quanto mais comemos, mais sentimos necessidade de comê-los.

            Vez por outra saem belas realizações da minha roça de sonhos (uma criança lendo, um jovem se profissionalizando…). Ah, como fico feliz! Não há nada melhor para um plantador de sonhos do que ver um roçado cheio de realizações. São frutos preciosos, que lançarão suas sementes pelo mundo a fim de semear mais sonhos e, quando damos fé, surgem mais sonhos, mais realizações, e o mundo fica cada vez melhor. Esse é o papel de um plantador de sonhos: fazer com que o mundo melhore e melhore e melhore…

            Às vezes vem a “lagarta” ou a “formiga” tentando acabar com minha plantação de sonhos. Sim, isso acontece. O que não pode acontecer é desistir de plantar, se não os sonhos param de nascer.

            Um plantador de sonhos é como a abelha que sai polinizando de flor em flor. E você, caro leitor, pode ser essa flor – ou a abelha. Ou as duas coisas. Permita-se sonhar; faça com que outros sonhem.

Afinal, quem não sonha não se realiza.

João Rodrigues (Reriutaba (CE)


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Criada em 2020 pelo professor e poeta Renato Cardoso, a Revista Entre Poetas & Poesias é um periódico digital dedicado à valorização da literatura e da arte em suas múltiplas expressões. Mais que uma revista, é um espaço de conexão entre leitores e autores, entre a sensibilidade poética e a reflexão cotidiana.

Registrada sob o ISSN 2764-2402, a revista é totalmente eletrônica e acessível, com publicações regulares que abrangem poesia escrita e falada, crônicas, ensaios, entrevistas, ilustrações e outras formas de expressão artística. Seu objetivo é tornar a arte acessível, difundindo-a por todo o Brasil e além de suas fronteiras.

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