por Renato Cardoso
“A maior parte das gaivotas não se preocupava em aprender mais do que os simples fatos do vôo – como ir à comida e voltar Para a maioria, o importante não é voar, mas comer Para esta gaivota, contudo, o importante não era comer, mas voar.
– Por que, Fernão, por que? – perguntava-lhe a mãe – Por que é que lhe custa tanto ser como o resto do bando? Por que não come?
-Eu só quero saber, é tudo (respondia ele) Há tanto que aprender!”
2025 começou e eu me coloquei algumas metas (coisa normal de todo o início de ano, mas que devo obedecer com bastante rigor). A leitura é uma delas, a leitura além dos livros paradidáticos (para quem não sabe sou professor). Adro ler, mas nós dois últimos anos a leitura foi aquém do que eu queria devido ao trabalho. Então, baixei alguns aplicativos de leitura, além de estar sempre com um livro físico. Não tenho problemas com e-books, mas prefiro os livros impressos.
Entrei em um desse aplicativos e estava vendo o que tinha a minha disposição e dei de cara com “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach. Uma obra que sempre escutei falar desde criança, mas só agora consegui realizar a leitura (e que se diga de passagem, que leitura!). Foram 111 páginas, que falavam de diversos temas, mas principalmente sobre liberdade e crença.
“Fernão Capelo Gaivota” foi escrito por Richard Bach, em 1970, um piloto reserva da Força Aérea cuja principal inspiração literária é o voo, abordado tanto de forma literal quanto como metáfora filosófica em suas obras. A sua obra se tornou um best-seller,sendo temática de discussões, palestras e resenhas.
Afinal, sobre o que o livro fala? Como aviador, Richard Bach não poderia adotar outro tema a não ser voar, mas esse vôo não é aquele feito por máquinas e sim, o que podemos chamar, de o vôo da liberdade. Bach diz que “Fernão Capelo Gaivota” nasceu em um dia que estava simplesmente observando a vida e escutou uma voz misteriosa, falando que queria voar.
Fernão Capelo Gaivota é uma ave que não contente só com a sua situação de uma simples ave, determinada, por nascimento, a voar pouco e viver de migalhas. Decide lutar pela liberdade de ser o que quisesse, de acordo com a lei (não a leitura dos juízes, mas, neste caso, a Grande Lei).
“Só a lei que conduz à liberdade é verdadeira – disse Fernão. – não há outra”.
Fernão é uma gaivota, que logo de início, toma gosto por voar de maneira diferente de seu bando, experimentando o gosto da liberdade e de poder voar em alturas e velocidades nunca antes atingidas por outras gaivotas. Fato este que lhe deu o nome de pária e foi expulso do seu bando.
O livro foi dividido em 4 partes, sendo a liberdade a temática da primeira. Já na segunda, Capelo Gaivota se torna um ser que ultrapassa seus limites físicos, voando a mais de 250km/h e indo para um dimensão paralela, onde consegue compreender que o que lhe tomava especial era, justamente, o seu desejo de autossuperação, o combate ao conformismo e a dualidade do individualismo (afinal, ou ele ficava com o bando, sendo uma gaivota normal ou lutaria pelo que queria, superando seus limites físicos e mentais, marginalizado por buscar algo diferente da rotina da comunidade.
“O mais importante na vida é olhar em frente e alcançar a perfeição naquilo que mais gosta de fazer”.
Na terceira parte, Fernão retorna ao seu grupo, abandonando a dimensão de luz onde estava, e, mostrando compaixão e empatia, busca ensinar outras gaivotas aquilo que ele aprendeu ao longo de sua vida. Ao poucos, jovens gaivotas foram se aproximando dele por terem a mesma vontade. A liberdade, nesta parte, toma um tom de religiosidade, pois as gaivotas (que com o tempo foram muitas) passam não somente a aprender aquilo que Fernão lhes ensinará sobre liberdade, mas começam a adora-lo com uma gaivota divina, filho primogênito da Grande Gaivota.
Ao perceber que seus ensinamentos estavam completos, Capelo Gaivota decide ir embora e deixa seus primeiros alunos tomando conta de novas turmas, destaque para Francisco Gaivota, novo líder das aves iniciantes. O rumo da história foi mudando, até que cada aluno original de Fernão morresse e tudo aquilo que ensinaram fosse transformado em uma crença limitadora (inclusive com reunião às terças e impondo restrições a tudo que fora ensinado, ou seja, indo contra a Lei que Fernão sempre falava).
Passado décadas, não só os ensinamentos foram deturpados, mas tudo aquilo que fora mostrado. As limitações retornaram. A obra de Bach deixa uma grande lição:
“Não creia no que os seus olhos lhe dizem. Tudo o que mostram é limitação. Olhe com o entendimento…”
A quarta e última parte, que quase não foi publicada, é o próprio autor filosofando sobre a essência de sua obra. “Com Fernão Capelo Gaivota aprendi que não existe limites,que tudo podemos”. Um livro altamente recomendado pela sua leirura simples, mas com grandes ensinamentos. Garanto que vai gostar.


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