Tem coisas que parecem invenção, de tão surreais. Quem poderia imaginar que a visão da Lua nascente numa estrada, ao invés de despertar sentimentos românticos ou medo de lobisomem, levaria a uma dessas reflexões supérfluas e a uma angústia 3D? “E que diabos é isso?”, vocês perguntarão. Para explicar, preciso descrever o episódio.
Estávamos viajando, meu marido e eu, quando percebi a Lua enorme à frente, ainda próxima ao horizonte, de cor bem amarela, brincando de esconde-esconde com os morros ao redor. Só não era mais impactante, porque, apesar de tecnicamente na fase cheia, já minguava, com 89% de seu corpo visível. Cismei em tirar fotos, naturalmente, tremidas e desfocadas dado o movimento do carro. Acompanhei-a, celular na mão, por um bom trecho. Saímos da BR, entramos na estrada secundária e, ali, conseguimos um ponto favorável para capturar a modelo. Paramos, fiz a foto e seguimos viagem.
A questão é que comecei a encafifar. Onde estaria o Sol para vermos o satélite daquele jeitinho, com uma dentada na lateral superior esquerda? No hemisfério norte, ela estaria às avessas (permito-me a prerrogativa de admitir serem eles a ver a imagem contrária). Quebrei a mufa sem sucesso. Precisaria fazer uma daquelas experiências de escola, com lanterna, laranja e jaboticaba, a fim de simular as posições dos astros e entender a direção da sombra projetada. Quem sabe até, com um dos sobrinhos. Mas isso não foi suficiente para aplacar meus questionamentos.
Pensei que estamos de cabeça pra baixo, os pés colados na bola-Terra — esta, solta no espaço — e que a Lua e o Sol também vivem flutuando em movimento rotativo contínuo pela Via Láctea. Com os olhos da mente, procurei me localizar, primeiro de ponta-cabeça sobre a Terra, olhando para o céu e visualizando a Lua mordida. Depois, quis descobrir de onde o Sol estaria derramando seus raios sobre nós. Tudo em vão.
Lembrei-me, então, de lindas pinturas gigantes sobre montanhas, laterais de prédios, ou areias do deserto, compartilhadas em vídeo nas redes sociais. Sempre me impressionam. Como os artistas conseguem enxergar e criar tais imagens num tamanho descomunal, muitas delas simulando três dimensões, e fazer sentido? Mistério!
Definitivamente, eu estava sofrendo de uma angústia 3D. Apesar de ter feito jardim de infância e brincado bastante com blocos e brinquedos físicos (em oposição aos virtuais nas telas 2D), não consegui desenvolver uma percepção espacial em três dimensões. Senti-me personagem do videogame de plataforma Fez (muito interessante, aliás, sobre um protagonista que se move em duas dimensões num mundo de três). O que fazer, né? O jeito foi sacudir a cabeça e puxar outro assunto. Em algum momento, faria a tal experiência e descobriria a lógica da situação. Até lá, o que não tem remédio, remediado está.


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