Abismo das Almas Veladas
Matheus Fernandes Velazquez
Ó névoa sibilante dos tempos esquecidos,
Que em mares de ébano murmura segredos antigos,
Cingindo o céu com véus de trevas consagrados,
Onde o Érebo entoa cânticos almadiçoados.
Das entranhas do cosmos insondável,
Erguem-se arcadas de um templo abissal,
Cujo eco ressoa em rito imemorável,
Convocando espectros da escuridão desleal.
Nefasto, sim, és tu, sombra escura,
Que se arrasta, insidiosa, pela terra infinda,
Com o toque frio da aurora obscura,
Onde a esperança já se esconde e finda.
Não tens forma, mas és a inquietude,
Que se espalha nas mentes sem alarde,
E em teu rastro, as sementes da virtude
Murcham e caem como folhas de um cármen
Eis que sob a luz das estrelas mortas,
Mana rios de um plasma iridescente,
Rastreando a via de anjos decadentes,
Sentenciados à eternidade deserta e torta.
Vós que ousais decifrar as runas do destino,
Sabereis, enfim, o peso do saber oculto,
Pois no alvorecer do juízo último e profundo,
Cairão todas as máscaras do divino.
O teu reino não se ergue em castelos,
Mas nas fraturas da alma humana,
Onde semeias dissonantes paralelos,
Tornando a razão distante, insana.
E o abismo, faminto por luz e carne,
Abraçará vossos ossos com sede pérfida,
Enquanto na noite perpétua, estrídulos cantos,
Devoram vossa alma em dança gélida.
Tuas mãos, invisíveis mas certeiras,
Tocam, e o toque vira corrente,
Que prende os passos, desce as veredas
De um abismo que consome o presente
Em teu nome, o silêncio se curva,
Pois em teus olhos não há resposta,
Tão só a pressa, que, alheia e turva,
Faz da dor uma verdade imposta.
Temei, ó frêmito de vida que palpita,
Pois o silêncio do vazio já vos espreita,
E na eternidade da sombra que vos habita,
Sereis somente um grito em forma desfeita.
Nefasto, és o eco do erro sem fim,
Mas teu poder reside no vazio do agora,
Onde o amanhã é um temor sem fim,
E a alma que te encontra já chora.
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