Acredito que um dos maiores desafios pessoais é vencer os nossos medos, principalmente relacionados à conquista. “O que alguém não faz por amor?”
Foi o que aconteceu com um rapaz que não conseguia disfarçar sua paixão avassaladora, quando conheceu a nova moradora do bairro. Todas às vezes quando passava por ela, ficava hipnotizado. Observava cada detalhe do seu jeito de caminhar, sobre a delicadeza de seus gestos e sua atenção para com os idosos, mesmo sendo uma pessoa desconhecida. A moça tinha o cuidado de perguntar se precisava de ajuda e auxiliava sempre, atravessando a rua ou carregando sacolas.
Não sei dizer ao certo o porquê da indecisão de falar com uma menina tão simpática. O rapaz atraído, bem como intrigado com os cabelos rebeldes de cachos azuis, tatuagem no ombro esquerdo, e muitas pulseiras de couro. Era de fato uma menina muito diferente mesmo.
Ele passou a vigiar os horários e de alguma forma de aparecer, queria ser notado. Fazia piruetas de bicicleta, ela nem olhava. Ingressou à academia e passeava de camiseta justa, até com o clima frio para exibir os pequenos músculos. Uma vez pediu emprestado uma prancha de surfe e caminhou com o enorme objeto por duas horas e nada. Não conseguiu nem um olhar de soslaio. Fez um corte de cabelo muito esquisito, piorou a situação. Foi obrigado a andar de boné, tornando-se ainda mais anônimo.
Certa vez viu um livro nas mãos dela. Contra a vontade, foi obrigado a colocar os óculos e não conseguiu ler o título, tampouco o autor. Pensou em fazer um charme intelectual, tentativa fracassada!
Ela desapareceu durante uns meses, para a tristeza do garoto. Por conseguinte, ele perdeu a vontade de sair de casa. Alguns amigos o chamavam para sair, mas ele só pensava nela.
Um final de tarde, quente, típico da primavera. Ele escutou gritos e um tumulto em sua rua. Olhou da janela e ela estava correndo na rua atrás de um cachorro. Rapidamente ajeitou os cabelos, perfumou-se e saiu correndo para ajudá-la. Sem os óculos, não percebeu o tamanho do animal. Era um pitbull que parecia se divertir com tantas pessoas correndo e gritando.
Estático diante da situação, precisava vencer o trauma de cães e aproveitar aquela inacreditável oportunidade. Sentiu dor de barriga, sudorese e vontade de vomitar simultaneamente. Porém, quando a jovenzinha sorriu para ele… subitamente uma energia cresceu e ele foi encarar!
A rua sem saída e a guia presa na coleira, facilitaram cercar e segurar a tal fera. O desejo de mostrar-se foi maior que o pavor.
Finalmente, sendo puxado pelo bicho, aproximou-se de sua amada:
– Muito bonito, seu cão! – elogiou, ofegante e pálido.
– Ah, não é meu, não. Nem sei quem é o dono! – respondeu com olhar preocupado.
Nesse momento um carro com um jovem senhor chegou buzinando para ela.
– É seu pai?
– Não, meu namorado! Tchau e muito obrigada! – disse sorrindo.
Ele ficou sozinho, na rua, segurando a guia com o cachorro rosnando, por meia hora até os donos do animal chegarem.
Ivone Rosa
@profaivonerosa
[ extraído do livro O Primeiro Prazer]

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