Um encontro entre escritora e mãe atípica

A metamorfose na minha vida começou quando quis ser mãe…
Aquela vontade enlouquecida de gerar um ser…
Sem saber ainda o que tudo isso compõe…
Ser mãe era meu motivo de viver…
Tão inocente que sou sem saber os aclive e declives dessa viagem…
Curti os primeiros meses daquela pequena vida dependente de mim…
Coloquei no ombro a minha pouca bagagem…
E com ele no colo pensei que seria sempre assim…
Mas a verdadeira metamorfose, aquela que só escolhe alguns…
Já estava por se instalar na rotina dos meus dias…
Você começa a enxergar o que não quer ver, coisas incomuns…
Começa ouvir seu coração para aquilo que te agonia
Aquele gesto diferente, aquele olhar longe, aquela fala que não vem…
A indiferença ao brinquedo ao brincar, aquele sono que não quer dormir…
Aquela crise por tudo, por nada aquele choro que você retém…
Já percebeu que alguma coisa tá diferente, mas precisa se conter e seguir…
De cara falta o chão e não da pra seguir, sente que faltou o ar…
Naquele buraco escuro que você já rotulou de autismo passa um filme na sua mente…
Você quer uma luz mas tudo que há ao seu redor só faz te cegar….
Mas passado o susto, o surto e o desespero você lembra que é mãe e segue em frente…
Dentro dessa jornada da vida começa pra nos a jornada extra de espectro…
Muito se diz e pouco se faz e o tempo vira seu inimigo…
Cada evolução, cada solução, cada terapia importa mais que todo resto…
E no caminho você percebe que vai diminuindo a lista daqueles que vão estar contigo…
Mas o que a metamorfose tem a ver com tudo isso?!?!
Ela acontece todo dia em doses homeopáticas em você…
Dolorida e lenta mas você já está tão focada pra pensar nisso…
Que pouco a pouco as asas e as cores começam a aparecer…
Aí quando você pensava que devia prender aquela borboleta em casa…
Porque achou que ninguém ia entender suas cores e movimentos…
Quando você estimula o voo e dá tempo ao tempo para que abra sua asa…
Aí começa a entender que o “atípico” também tem sons e sentimentos…

Josileine Pessoa F Gonçalves

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