Michelle Carvalho

O amor transforma o impossível

 

Tantos medos,

Incertezas,

Dores

E falta de cores…

 

Tantos vazios,

Leitos frios,

Silêncios

E desesperança…

 

Lá onde a voz não mais alcança

Mora a Fé

que antes era Felicidade

e se desfez, amargurada.

 

Na lágrima acalentada,

Aninhada no colo do Pai

Saiu da névoa escura

Abriu o sepulcro

e mostrou-se pro mundo

 

Que o amor

Vindo do alto

Transforma o impossível

Alvejando o coração

com a cor da Ressurreição…

(Michelle Carvalho)

                  Em meio a tantas informações que nos chegam, e outras que buscamos para nos distrair, estava assistindo um seriado em que foi dito que existem nomenclaturas para quase tudo, inclusive nas perdas que sofremos.

                  Mulher que perde o marido é viúva, filho que perde os pais é órfão, mas pai ou mãe que perde filho, o que é?

                   Acho que essas estranhezas reversas da vida são tão impregnadas de não realização mental que nem há vocábulo para expressar tamanho descompasso da vida.

                   É não seguirmos a ordem natural das coisas, como se forçássemos uma cachoeira a correr ao contrário de sua correnteza, talvez por isso nem encontremos uma palavra pra descrever, tal qual a impossibilidade concebida na mente disso acontecer.

                   Seria uma lacuna inversa?

                   Quando um de nós se vai leva consigo parte da história, mas reaviva na memória saudosismos até mesmo esquecidos de lembranças empoeiradas com o tempo.

                    Relembramo-nos de bons momentos e exaltamos os pensamentos desejosos de que jamais esqueçamos os dias de outrora que não voltarão e não mais se formarão no futuro.

                    O que será que os apóstolos sentiram naquela sexta-feira na qual o céu se escureceu e a morte se mostrou nua e crua para todos que cercavam Jesus?

                     A dor mortal da perda da esperança, da perda do homem que nenhum mal fez e que apenas deu amor até mesmo a seus opositores.

                    O que será que sentiu Maria, sua mãe, no calvário vendo seu filho gerado, seu menino amado, o qual amamentou e ensinou a dar os primeiros passinhos? Viu o sorriso de criança na memória, e ao olhar sua trajetória vislumbrou aquela grotesca e desumana visão onde sente transpassada na alma a lamina da mais profunda dor da perda do filho querido.

                    O que será que sentiu o próprio Deus por ver tudo que se passava com seu filho que cumpria as escrituras para mostrar ao mundo a grandeza do amor que vence até o que é impossível?

                   Jesus aceitou beber do cálice que seu Pai lhe ofereceu, sofreu e como todos nós sentiu-se abandonado no momento de profundo sofrimento.

                   Tão divino no amor e tão humano na dor.

                   Em meio ao que o mundo está nos mostrando, divergências ideológicas, políticas e internas, igualamo-nos na dor da perda, na qual não há superioridade e sentimos o abandono.

                   Abandono daquele que se vai sem despedida, abandono por perecer acreditando que Deus nos virou as costas…

                    Mesmo diante da dor, do mundo desfacelado, descrente e sem cor, nos vamos de nós mesmos, nos perdemos porque não enxergamos que principalmente nestes momentos obscuros Deus nos carrega no colo.

                     Com o coração flagelado de dor como ficou o corpo de Jesus na cruz, o Pai sela e acalenta os espinhos que nos apertam.

                      Daí retomo a pergunta: O que sentiu Maria no calvário ao ver seu filho ir-se de si? Sentiu-se lacunada pelo que não há vocábulo a dizer? Sentiu a orfandade inversa da correnteza da vida?

                      A dor dela foi enorme, mas nunca foi maior que sua certeza de fé nas palavras e promessas de Deus. Promessas configuradas por meio de seu menininho que brincava em seu ventre e se fazia presente mesmo antes de nascer, pois é Emanuel, Deus conosco!

                       Maria teve a espada transpassada na alma na noite mais escura de sua vida, porém seu coração de serva, que deixou fazer em si a palavra de Deus para que o verbo se fizesse homem, jamais duvidou do maior amor do mundo que fez o milagre surgir em sua barriga de mãe.

                        Maria chorou eis que é humana como nós.

                        Jesus também chorou porque sua humanidade se assemelha a qualquer um de nós.

                         Mas ambos tinham a fé da entrega plena pautada na esperança, na verdade e na certeza de que Deus venceria qualquer impossível, até mesmo a morte, alvejando a noite mais traiçoeira com o brilho da ressurreição.

                         Em meio às ausências e caminhos dolorosos vividos em noites escuras que se repetem, busquemos a ressurreição para alvejar nosso coração na fé de que não estamos órfãos do Pai que nos carrega no colo quando a desesperança e a escuridão da dor nos envolvem.

                                                                                                Michelle Carvalho

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Fonte: 

Imagemdestacada: https://pixabay.com/pt/photos/amor-morreu-cruzar-espinhos-coroa-699480/

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Michelle Carvalho

Biografia: Advogada, Escritora desde os 13 anos, com participação em inúmeras antologias literárias e premiações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ganhadora do Premio Baixada de Literatura em 2014. Lançou 4 livros: “Furor Letárgico da Alma” (2009), “Versos de Princesa Prometida” (2015 – na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro) e “Cindy Entre Patas e Reinos” (2018) e Cindy Entre Patas e Reinos 2 (2019 – 19ª Bienal Internacional do do Livro do Rio de Janeiro) , estes dois últimos projetos de leitura na Cidade das Artes/RJ, em várias escolas nacionais e internacionais. Além de diversas participações em projetos culturais literários em escolas com palestras motivacionais, intervenções literárias e poéticas em saraus, sendo o último deles o Programão Carioca da Rede Globo no ano de 2018, Participação na FLIM e FLISGO no ano de 2019, bem como posse na ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé.

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