Cleia Nascimento
A Lágrima Arrependida
A Lágrima Arrependida
Por acaso, despretenciosa,
A lágrima mira o mundo
Pela primeira vez de frente.
Vê bocas amargas de sede,
Estômagos miúdos gemendo
E sugando secos seios
De corpos desesperançosos.
A lágrima assustada, discretamente,
Esconde-se detrás da córnea
Esbranquiçada e lacrimejante
E permanece observando tudo.
Vê pés descalços em calçadas
De concreto duro e quente
Indo de um lado para o outro
Sem destino, sem futuro.
Vê mãos de todas as cores
Calejadas demasiadamente,
Sustentadas por braços cansados
Que suportam diárias dores.
A lágrima envergonha-se
Por ter desejado cair por terra,
Porque acreditou ter direito
De entregar-se ao pranto
Já que sempre imaginou
Que sofresse tanto.
Por Cleia Nascimento
Instagram: @cleia_textos