Fala aí, Juventude! – Poema: “Ela(e)” – Luiz Fernando
Ela(e)
(Por Luiz Fernando)
“Eu só quero esquecer” – disse ela, sem nem entender o que havia acontecido. De alguma forma, o desejo de não lembrar daquilo que ocorrera era o que mais a fazia recordar.
Ela precisava esquecer, não dos olhares, mas do sentimento. Precisava esquecer porque desejava ter tudo de novo e, ao mesmo tempo, fazer tudo diferente.
Ela sempre desejava, mas, de repente, já não sabia o que era bom, e isso a fazia desejar algo diferente. Algo que pudesse fazê-la sentir viva, sentir vida, sentir que os dias não passam tão devagar, mas que pudesse ter a sensação de desfruto real.
Ela pouco idealizava. Mas, depois de tanto tempo sem se sentir a mesma, era inevitável não desejar a si como a melhor versão. Uma que pudesse ser tudo aquilo que hoje não é. Mal sabia ela que, a partir do querer, ela já se fazia ser.
Ela pensava não ser tudo que um dia tentara não idealizar, erroneamente. Simplesmente era, talvez por isso idealizasse ser. Insistia em querer a todo tempo e não se percebia aflorar durante esse processo.
Ela queria se libertar de rótulos, pra que pudesse sentir ser, sem restrições.
Ela era dona de muitos quereres. Ele queria ela.
Desvendá-la já não era problema. Parecia nunca ter sido. O problema era deixá-la partir, depois de tanto tempo em ausência.
“Não me agradeça” – ele sempre dizia.
Sua felicidade importava pouco. Ela importava muito.
Luiz Fernando, 17 anos, morador de Itaboraí. Desde sempre apaixonado pela arte, crescido numa família extremamente sensível a esse tipo de expressão, começou a cantar com 13 anos e, a partir daí, viveu uma fase turbulenta de descobertas sobre a vida de maneira geral, percebendo que conseguiria transmitir a sua verdade através da escrita. Já naquela época, era fascinado por formas de arte com algum tipo de subjetividade, com algum tipo de incerteza. Gosta dos dizeres subentendidos, pois oferece a oportunidade de diferentes interpretações, em diferentes fases de experiência com a vida. A escrita vem de sentimentos já degustados, de sentimentos quistos, mas não provados ainda. Escrita descreve o que não se decreta.