Michelle Carvalho

Sobre fechar ciclos…

 

O inicio e o findar

Parecem de mãos dadas andar

Mesmo sem saber onde vai dar

Vamos seguindo a caminhar

 

Tantas vezes a cegueira e o egoísmo não nos deixam ver

As coisas lindas que estão a florescer

Por nos prender

Ao que devemos deixar ir

Seja bom ou ruim

Porque nada é eterno

 

Quando um ciclo se fecha

Um novo se inicia,

Que tenhamos luz para discernir

E seguir com sabedoria!

 (Michelle Carvalho)

 

Cada minuto na vida compõe uma parte de ser, do tempo, da sua vida…

Existem momentos bons que desejamos ser eternos, outros tão absurdamente corrosivos que queremos que sumam da existência e das memórias, mas você sabe distinguir quando cada momento deste acaba?

Parece uma pergunta fácil, né?

Ora, o momento ruim acaba quando deixamos de sofrer e o bom se vai quando não estamos mais felizes!

Será mesmo isso?

Esses momentos compõem ciclos que parecem ser fáceis de identificar quando vemos de fora, mas enquanto vividos não são captados desta forma.

O findar de um relacionamento, a perda de um amor, o falecimento de  um ente querido são exemplos de situações que fecham um ciclo, contudo, a dor não se vai naquele instante, ela ultrapassa a parede do ciclo, expande, excede o que deveria terminar ali.

As dores das lembranças, as lágrimas, os questionamentos internos, o luto estendido caminham a não permitir que o ciclo se finde.

Da mesma forma a alegria do encontro, da conquista, tal qual o findar da escola com o diploma na mão e a vaga certa na faculdade, quanto motivo para comemorar, quantas alegrias! Mas o palpitar da saudade daquele desfecho, do crescimento, do sair daquele momento pesa por um bom tempo. Parece que não queremos nos desgarrar.

É também difícil fechar ciclos felizes, o que acalenta é a certeza de que algo bom está por vir.

A mudança para uma casa maior, para um emprego melhor, passar em um concurso público, um sucesso profissional muito esperado ou até mesmo a chegada de um filho, é uma guinada para algo inimaginável e feliz, mas não apaga a ansiedade, o desprendimento do que se deixa para trás, da base já solidificada anteriormente e do medo de não dar conta do novo, medo de saber que nunca mais nada será como antes, e mesmo que deseje e tente voltar, o ciclo não retroage. O novo é um abismo no qual caminhamos vendados, o que nos guia é a esperança e a fé.

Estamos em uma era com pessoas cada vez mais incapazes de fechar ciclos, frágeis emocionalmente por não se aprofundarem, por se manterem rasos nos liames afetivos, estruturais, factuais, por  não se apegarem, talvez por medo, talvez pela efemeridade dos momentos e dos encontros.

Por um lado esfarelam-se sentimentos em um amor líquido que se esvai em um passar de dedos na timeline , sem ater-se a nada, mas ao mesmo tempo sem inteligência emocional para perder o que raramente se atém.

Não podemos voltar a ser o que fomos, retornar aos melhores momentos das nossas vidas, não podemos pular os momentos difíceis a serem enfrentados, mas que tenhamos sabedoria para entender e decifrar os fins e os novos começos.

Muitas vezes não conseguimos viver a alegria do novo começo por inúmeros motivos, um deles é quando essa nova fase te coloca em enfrentamento com outros ciclos já findados, como se tivéssemos de encarar os fantasmas, o que se foi, o que fez sofrer e vem assombrar. Isso também ocorre quando temos de encarar a  saudade do bom que não volta mais. Nestas situações vemos dificuldades de seguir e absorver o bom que está por vir e a transição se torna mais lenta.

Todos os dias não somos mais o que fomos ontem, mas amanhã podemos ser bem melhores do que hoje.

Entre o ciclo que se fechou e o novo que se abrirá está o agora e só cabe a nós respirar e entender em que fase estamos; no fim de um ciclo, no início de outro, procrastinando para arrastar um fim inevitável ou tentando trabalhar intensamente o desdobramento do que você é hoje, mesmo com dores, com medos, com choro, com falta de esperança, mas agarrado na fé de que em todos os dias é possível tentar novamente, e mesmo quando pensamos em desistir, algo de diferente vem para trazer fagulha ao túnel escuro que muitas vezes se instala em nosso coração, até quando não sabemos o motivo de tal escuridão.

Um brinde aos novos ciclos e à sabedoria para discerni-los!

 

Michelle Carvalho

e-mail: [email protected]

Instagram: @michelle_carvalho_escritora

Facebook: Michelle Carvalho Escritora

Youtube: Michelle Carvalho Escritora

 

Fonte da imagem destacada: https://pixabay.com/pt/photos/fundo-flor-bokeh-primavera-4108198/

Etiquetas
Mostrar mais

Michelle Carvalho

Biografia: Advogada, Escritora desde os 13 anos, com participação em inúmeras antologias literárias e premiações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ganhadora do Premio Baixada de Literatura em 2014. Lançou 4 livros: “Furor Letárgico da Alma” (2009), “Versos de Princesa Prometida” (2015 – na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro) e “Cindy Entre Patas e Reinos” (2018) e Cindy Entre Patas e Reinos 2 (2019 – 19ª Bienal Internacional do do Livro do Rio de Janeiro) , estes dois últimos projetos de leitura na Cidade das Artes/RJ, em várias escolas nacionais e internacionais. Além de diversas participações em projetos culturais literários em escolas com palestras motivacionais, intervenções literárias e poéticas em saraus, sendo o último deles o Programão Carioca da Rede Globo no ano de 2018, Participação na FLIM e FLISGO no ano de 2019, bem como posse na ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Fechar
Fechar
%d blogueiros gostam disto: