Vestido de cinza
um grito mudo abafou a rua
em vez de tambores, a voz do silêncio
a velha guarda isolou-se em casa
a comissão de frente, sem alegorias nem adereços,
recuou
o mestre-sala e a porta-bandeira estão cuidando
um do outro
nem a madrinha (da bateria) pode visitá-los
o enredo agora é outro
o estandarte é o do medo
os blocos, imóveis, olhas as ruas descoloridas
o carro alegórico ficou na garagem
a linda passista passou desta pra melhor
o puxador de samba
com seu grito estridente
pediu oxigênio, pois faltou-lhe o ar
o diretor de bateria está dirigindo um hospital
com centenas de infectados
a baiana trocou de ala
(agora está na Ala B de um hospital qualquer
sem previsão de sair)
os foliões trocaram a fantasia por máscaras
e a folia vestiu-se de medo e apreensão
na apuração, a TV anunciou milhares de mortes
silenciando todas as Escolas
desta vez não haverá campeã
o carnaval vestiu-se de cinza!!!!
João Rodrigues