João Rodrigues

Vestido de cinza

um grito mudo abafou a rua
em vez de tambores, a voz do silêncio
a velha guarda isolou-se em casa
a comissão de frente, sem alegorias nem adereços,
recuou
o mestre-sala e a porta-bandeira estão cuidando
um do outro
nem a madrinha (da bateria) pode visitá-los

o enredo agora é outro
o estandarte é o do medo

os blocos, imóveis, olhas as ruas descoloridas
o carro alegórico ficou na garagem
a linda passista passou desta pra melhor
o puxador de samba
com seu grito estridente
pediu oxigênio, pois faltou-lhe o ar

o diretor de bateria está dirigindo um hospital
com centenas de infectados
a baiana trocou de ala
(agora está na Ala B de um hospital qualquer
sem previsão de sair)
os foliões trocaram a fantasia por máscaras
e a folia vestiu-se de medo e apreensão

na apuração, a TV anunciou milhares de mortes
silenciando todas as Escolas

desta vez não haverá campeã

o carnaval vestiu-se de cinza!!!!

João Rodrigues

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João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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