Renato Amaral

Real Namoro Virtual

Real Namoro Virtual

Aquele dia seria especial. O tão esperado encontro. Eu e Sandrinha, minha namorada, havíamos marcado de nos encontrarmos. Iríamos marcar o noivado.

Nos conhecíamos há mais ou menos onze meses e namorávamos há nove. Desde o início rolou um clima muito legal, uma química sem explicação. Sempre nos demos muito bem e nosso namoro ia de vento em popa. Já até havíamos feito sexo.  Virtual, é claro! Éramos muito íntimos, sabíamos pormenores da vida um do outro que jamais contamos a outras pessoas. Havia muita cumplicidade. Talvez por isso acabei acordando super pilhado para o nosso encontro. Tomei um banho daqueles, passei o perfume que ela havia dito que gostava, aparei a barba e coloquei a camisa com estampa do cogumelo do Mário Bros, que ela me enviou no meu aniversário de presente.

Saí de casa um pouco antes e passei na loja de chocolate favorito dela, que eu já sabia. Comprei trufas e rumei para o local marcado na praça de encontros do Shopping da cidade. Admito que estava muito nervoso com aquele passo que iríamos dar.

Fiquei aguardando até que de repente alguém chegou e me encostou no braço. Na hora demorei a reconhecer até perceber que era ela. Estava bem diferente das fotos que me mandava e que postava nas Redes Sociais. Não nos beijamos, houve somente um aperto de mão, bem frio por sinal. Cumprimento bizarro para quem já namorava há nove meses. De cara ela também falou que eu estava bem diferente das fotos e disse que só me reconheceu por causa da camisa de cogumelo. Fiquei sem graça, mas entendi. Realmente eu tinha o costume de “mexer” nas fotos que  postava na Rede. Tivemos bastante dificuldade de desenvolver um assunto e quando não ficávamos longos e constrangedores períodos em silêncio, falávamos por monossílabos.

Ela pegou as trufas que eu entreguei e comeu naquele mesmo instante, talvez fosse o motivo do sobrepeso que eu jamais poderia supor. Ela também pareceu um pouco decepcionada pela minha calvície precoce, que eu não mostrava online de forma nenhuma. Após uma hora de encontro nos despedimos com as desculpas mais estapafúrdias possíveis.

Ao chegarmos a nossas casas conseguimos enfim conversar com fluência e decidimos terminar o namoro e esquecer o noivado. Foi de comum acordo e logo mudamos os status do Facebook. Poderia até ter durado um pouco mais o nosso relacionamento, mas demos um passo importante muito precoce. Servirá de experiência para no futuro não querer conhecer a namorada pessoalmente tão cedo.

Por Renatto D’Euthymio

*Conto premiado com Menção Honrosa e publicado em Coletânea no 12° Concurso Literário de Francisco Beltrão 2019, com o Tema: O impacto das Redes Sociais na minha vida.

E-mail: renattodeuthymio@gmail.com

Instagram: @renattodeuthymio

Mostrar mais

Renatto D'Euthymio

Renatto D'Euthymio, carioca de Santa Tereza, dividindo residência entre São Gonçalo - RJ e a pacata e inspiradora, São José do Calçado no Estado do Espírito Santo. Estudante Rosacruz, técnico em Radiologia, flamenguista fanático e apaixonado pelas filhas Rannya e Rayanne. Cultiva desde criança uma paixão pelos livros e seus gênios. Autor do livro de poemas Solilóquio Antes e Depois da Forca (2020) e do livro de humor O Tabloide Jocoso (2021). Premiado em dezenas de concursos literários (Poesia, Crônica, Conto e Microconto), e publicado em Antologias e Coletâneas. É tão ligado à Literatura que de vez em quando não se contém e atreve-se a rabiscar algumas linhas.

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo