Certa feita vesti-me de princesa
Almejando e tilintando o fomentar da felicidade em meu peito
Estava tão desiludida, necessitava de esperança e liberdade…
Refugiei-me em sonho e fantasia
E ao findar da noite
O príncipe apresentou-se
Tal qual figura horrenda
Transformando meu semblante
Dilacerando toda minha fantasia…
Esmoreci, sofri, morri por dentro…
Talvez também por fora…
Hoje, mais uma vez,
Dispo-me da alegoria cotidiana
E novamente invisto no invólucro de princesa…
Busco sonhos de menina
Sorrisos, amigos, felicidade…
O maior desejo
É que ainda como princesa,
Opostamente a outrora
O príncipe apareça
E demonstre que toda ojeriza e pavor
Foi apenas um terrível pesadelo…
(Versos de Princesa Prometida 2 – 2020 – Michelle Carvalho)
A vida é um ciclo, cheia de sonhos, necessidades, tentativas de realizações e nem sempre o êxito imaginado… Há muitas vezes grandes desilusões como a poesia acima narra…
Mas assim como há ciclos que nos roubam do nosso eixo e nos desenganam dos nossos anseios, outros nos dão a mola propulsora pra seguirmos em frente e fazermos ainda mais do que sonhamos.
Em um mundo onde tudo tem que ser mais fácil e indolor vamos nos perdendo, tendo mais facilidades para encontros mesmo diante de enormes distâncias, mas que nos afastam a cada instante de nós mesmos.
Existem pessoas que nos afastam de sonhos, nos afastando de nosso real ser e aos poucos acabamos acreditando que aqueles desejos não são cabíveis em nosso mundo, não nos trariam felicidade ou até mesmo que não seríamos capazes de realizar, mas que os que nos são impostos por aquelas pessoas, que seriam os realizáveis e passíveis de sucesso. Acabamos por vestir esta roupagem que inúmeras vezes não nos cabem, mas continuamos cada vez mais arroxados, estrangulados, sufocados tal qual alguém forçado a fazer uma dieta por ter uma ditadura externa de que não pode se amar como realmente é.
Esse poderio é exercido sobre nós em diversos ângulos e âmbitos, seja por um amigo, por alguém da família, por uma foto na internet ou por uma visão de mundo construída pela sociedade.
A palavra tem poder imensurável sobre as pessoas, principalmente vinda de quem nós confiamos, de quem amamos, de quem admiramos ou que possuímos vínculo próximo. A palavra pode matar alguém, matar sonhos, matar o brilho no olhar, então, entre matar com a palavra e silenciar, busque o silêncio para manter a vida do outro e a liberdade dentro de si por não ter causado a degradação psicológica e social de outrem.
Já vislumbraram que em nome de amar alguém cometemos grandes absurdos abomináveis como condicionar o amor (“só vou te amar se…” ou “se você fizer tal coisa, aí sim…”), aprisionar (“você não pode conversar com tal pessoa” ou “não olhe naquela direção porque eu não quero”), podar esperanças (“nem adianta tentar fazer tal coisa, você nunca vai conseguir fazer”), desconstruir a personalidade (“siga essa escolha porque eu sempre quis seguir e não tive a oportunidade e agora você pode e tem que seguir”), imposição de dores e traumas (“minha vida sempre foi triste e infeliz porque você pensa que a sua tem que ser boa e feliz?”)… e tantas outras formas doentias de amar.
São agressões psicológicas diárias que são sofridas ao longo da vida por muitas pessoas em vários contextos como no meio das amizades, no âmbito familiar, no trabalho, onde na verdade, quem necessita de um olhar mais apurado não é somente quem sofre, mas quem atua como algoz, o qual muitas vezes sequer enxerga que realiza essas agressões, cotidianamente matando e aprisionando o próximo.
Mas essas atitudes estão tão arraigadas na sociedade através dos tempos que nem sempre a vinculamos a uma espécie de terror, confundimos com “amar demais”.
Que saibamos identificar e nos desprender destas algemas e mordaças psíquicas que nos prendem e silenciam de gritar por um sonho e buscar a felicidade, sozinhos ou ao lado de quem nos ama sem imposições, condições e que nos respeita como seres em construção, deixando de lado tantos terríveis pesadelos.
Michelle Carvalho
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