Era uma região do recôncavo baiano, completamente esquecida pelos governantes e composta por dez cidades. Todas elas apresentavam números parecidos de desenvolvimento econômico e compunham a região menos abastada do estado. A economia da região era extremamente dependente do rio Imbigoera, que cortava toda a região e banhava os dez municípios.
Tão logo o governador eleito assumiu o governo, realizou uma obra de transposição do rio Imbigoera. Até hoje ninguém sabe ao certo o motivo, mas o certo é que a mudança do curso das águas beneficiou diretamente um dos municípios (Ipirituba) e prejudicou ainda mais a economia dos outros. Entre as hipóteses do favorecimento, está o envolvimento da família dos Andradas, dona de grande parte das terras da cidade, com o novo governo.
Enquanto os outros municípios tinham escassez de água, Ipirituba era só abundância. O grande volume de água fez dela a cidade mais desenvolvida da região. Assim, Ipirituba virou cidade turística. Gente de todos os lugares do Brasil a visitavam para conhecer o maior chafariz da América Latina. O parque das águas era o destino de milhares de visitantes em busca de diversão e lazer. Ipirituba passou a ser chamada de “A cidade das águas”. Em qualquer canto de Ipirituba havia uma fonte de água cristalina.
Os meios de comunicação creditavam ao prefeito de Ipirituba o sucesso da administração da cidade. Não mencionavam a obra de transposição do rio Imbigoera. Muito menos o envolvimento dos Andradas com o governador. Da mesma forma, de acordo com a mídia, a escassez de água dos municípios vizinhos era resultado da má administração de seus gestores.
Os anos se passavam e Ipirituba se tornava uma das cidades mais ricas do país enquanto que os municípios ao redor se afundavam em dívidas e ficavam cada vez mais pobres. Assim, Ipirituba se tornou um dos maiores destinos turísticos do Brasil. Todos os empreendimentos agora estão nas mãos dos Andradas. Inclusive os meios de comunicação estão em seu poder. O prefeito, Márcio Andradas, foi reeleito para mais quatro anos. Não há motivos para tristeza em Ipirituba, pois, como se diz lá, a cidade tem dinheiro igual água.
