Giovanna Bayona

Costurando laços

Costurar de verdade não é comigo, mas sempre tive essa admiração por esta atividade, lembro de passar horas olhando minha avó costurar, enquanto eu me divertia brincando com sua caixa de botões, eu amava os botões, amava tanto que quando pedi pra minha avó um conjuntinho de crochê de presente, ela fez questão de me levar na loja para escolher os botões. Eu vi ela costurar aquela roupa por dias, e por mais que eu prestasse muita atenção não conseguia entender como funcionava, como ela conseguia entender aquelas revistas tão confusas, bom pelo menos pra mim era né, confusas demais. Em pouco tempo meu conjuntinho cor de rosa com botões de carinhas felizes estava pronto, eu fiquei muito feliz, abracei minha vó uma cem vezes, usar aquela roupa era muito legal, além de ser linda, minha vó tinha feito, e ela era muito talentosa. Eu usava o conjuntinho o tempo todo, e reforçava sempre que alguém elogiava, “foi minha vó que fez, especialmente pra mim.”

Depois disso eu enchi a paciência da minha avó, pedi pra ela me ensinar a fazer crochê, falava disso o tempo todo, ela me prometeu então que quando eu tivesse uns doze anos ela me ensinaria, infelizmente quando essa época chegou ela estava com um problema de saúde e teve que se afastar do hobby da costura. Eu poderia ter ido fazer um curso, ou ter dado um jeito de aprender de outra forma, mas a realidade é que eu não estava interessada na costura e sim em aprender algo com a minha vó, sabe aquela coisa de ter um talento ou algo que foi passado de geração em geração. Eu queria fazer um tapete tão bonito como os que ela fazia pra mim e para minha irmã ( nunca vou esquecer meu tapete de girafa) para que ela se sentisse orgulhosa de mim.

Tirando jogar buraco, que é uma tradição da família e que fui uma da ultimas a aprender a jogar com ela, eu não consegui aprender outros dons, talentos ou hobbys com ela. Minha vó partiu quando eu tinha quatorze anos, e apesar de viver colada nela, digo com toda a certeza que não vivi metade das coisas que queria ter vivido ao lado dela, apesar disso, hoje consigo enxergar que minha vó sem notar me ensinou o melhor talento que poderia, costurar laços.

Por muito tempo na minha vida me sentia mais enrolada que novelo de lã, às vezes ainda me sinto assim, a diferença é que agora eu sei que a agulha sempre esteve nas minhas mãos, minha agulha é a escrita. Nela eu desenrolo meus sentimentos, bordo minhas emoções, costuro minhas verdades, minhas crônicas são minhas peças, muitas vezes as faço para mim, outras é dedicada para algumas pessoas. O mais importante é que na minha escrita eu consigo dividir com as pessoas minhas experiências, expressar meu carinho, consigo fazer que minhas vulnerabilidades sejam a parte mais bonita em mim, porque escrevendo eu faço os meus “tapetes” que gostaria de fazer no passado, eu costuro os laços de amor, de carinho e de coragem.

Eu sou um furacão por dentro sabe, mas ao lado da minha vó sempre consegui ficar calma, e escrevendo me sinto assim também, é o momento que tudo para, eu respiro, me escuto sem toda a confusão em volta e o melhor de tudo, aproveito meu tempo fazendo algo que gosto muito, do mesmo jeito que minha vó na costura, quando passava boas horas produzindo meu conjuntinho rosa. Gosto dessa analogia, gosto de pensar assim, que a escrita foi um pedacinho dela que ela deixou pra mim quando se foi, e que floresceu em mim no momento que eu mais precisei. Espero fazer igual a ela, costurar muitos laços de amor nessa vida, inspirar as pessoas especiais pra mim a serem a melhor versão delas mesmas, só que no meu caso, eu faço isso com papel e caneta.

Meu Instagram: @giovanna.bayona

Fontes:

Imagem Destacada e Imagem interna: Foto de Cottonbro no Pexels – https://www.pexels.com/pt-br/foto/menina-com-sueter-amarelo-segurando-a-mao-dela-5895054/

 

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Giovanna Bayona

Giovanna Bayona escreve desde dos 16 anos para se encontrar e entender seus sentimentos, porém só com 22 anos se reconheceu como escritora e começou a divulgar suas crônicas e algumas poesias nas redes sociais, o que abriu portas para alguns projetos literários como a participação no quadro Saideira (2020) e no Sarau das Mulheres (2021) ambos no Canal Literaweb no Youtube. Possui participações em duas antologias da Editora Psiu e também participou da primeira edição da Coletânea Palavra em Ação da Editora Jornal Alecrim (2021). Agora também colunista da Revista Entre Poetas & Poesias pretende continuar expandindo sua escrita para todos que assim com ela são apaixonados por palavras.

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