Ser poeta é ver o mundo de um jeito
Que só ele sabe o jeito de explicar
Ser poeta é ver o mundo com um olhar
De quem enxerga com o olhar que tem no peito
Ser poeta é ver perfeito o imperfeito
É ver o homem em sua pura imperfeição
Saber que ele está sempre em construção
E compreendê-lo nessa sua incompletude
E entender que só é completo em virtude
O grande Mestre, o inventor da criação.
Ser poeta é enxergar em cada ser
O toque mágico do divino criador
É ter o sonho dum menino sonhador
Que dorme e sonha o doce sonho de viver
Ser poeta quase sempre é padecer
Dum certo mal que traz no peito, sem pudor
Que arde e queima feito um fogo abrasador
Só é poeta quem já sofreu de paixão
Quem se afogou nos mares da desilusão
Não é poeta quem nunca morreu de amor.
Só é poeta quem um dia sentiu da vida
Todo o seu doce, o seu sal e o seu fel
Ter conhecido o seu inferno e o seu céu
Ter visto o sangue escorrendo da ferida
É ter sentido o acre sabor da partida
É ter provado o doce gosto da chegada
Ter esperado até a alta madrugada
Aquele amor que não disse se viria
Só é poeta quem compreende, todo dia,
Que neste mundo somos tudo; somos nada.
Só é poeta quem da flor sente o perfume
Que foi doada com amor ao seu amor
Só é poeta quem um dia sentiu a dor
Que rasga o peito com as garras do ciúme
Só é poeta quem um dia chegou ao cume
Do sofrimento e conheceu o seu calvário
É o poeta, do amor, o emissário
Na página em branco ele tem a maestria
De reescrever o universo em poesia
Pra cavalgá-lo em seu corcel imaginário.
João Rodrigues