Suplemento Araçá

6ª edição – Artigo: “Subsídios para a história do movimento trovadoresco em São Gonçalo” – por Rui Aniceto Nascimento Fernandes

Subsídios para a história do movimento trovadoresco em São Gonçalo

Rui Aniceto Nascimento Fernandes (UERJ)

O movimento trovadoresco, no Brasil, começou a se estruturar na década de 1950, a partir das ações de Rodolfo Coelho Cavalcanti. O Cordelista e jornalista promoveu, em julho de 1955, em Salvador, o I Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, momento em que foi criada a Associação Nacional de Trovadores e Violeiros, posteriormente rebatizada, adotando o nome de Grêmio Brasileiro de Trovadores (GBT). Três anos depois, 1958, Luiz Otávio (Gilson de Castro) ingressou no Grêmio. Ao se dedicar à trova desde finais da década de 1930, Luiz Otávio se tornou, em 1966, delegado da GBT para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Entre 28/04 e 13/05/1960, Luís Otávio e J. G. de Araújo Jorge tornam a cidade serrana de Nova Friburgo palco dos primeiros jogos florais no Brasil. Os Jogos Florais têm sua origem na Antiguidade Romana, nas festividades dedicadas à Flora, deusa da primavera, das flores, dos cereais, das vinhas e das árvores frutíferas. Flora era umas das divindades sabinas introduzidas por Títo Tácio no panteão divino romano. Neste mesmo ano, realizou-se em São Paulo o II Congresso de Trovadores e Violeiros que elegeu Luís Otávio como “Príncipe dos Trovadores do Brasil”.

Divergências entre Luís Otávio e a direção da GBT o levaram a fundar, em 1966, a União Brasileira de Trovadores (UBT), desvinculando-se daquela outra agremiação. A nova instituição passou a ser organizada em seções e delegacias municipais, de acordo com o número de membros, e em seções estaduais, conforme o número de cidades.

São Gonçalo contava já com cultores da trova que, integrados ao movimento trovadoresco, associaram-se ao projeto de Luís Otávio e fundam (em 04/12/1966) a Seção municipal. Instalada em 31/02/1967, contou com a presidência provisória de Paluma Filho. Após dois meses de exercício, foi eleita a primeira diretoria que respondeu pelo biênio 1967-1968: Presidente: Edson Vianna de Mattos, Vice-Presidente de Administração: Paluma Filho, Vice-Presidente de Cultura: Gilvan Carneiro da Silva; Vice-Presidente de Finanças: Belarmino de Mattos; Vice-Presidente de Relações Públicas: José Odair de Carvalho; suplente: Nerliço Soares. O Conselho fiscal era constituído por Eduardo Pacheco, Antolauro Alfradique e Geraldo Lemos, tendo como suplente, Ney Soares. Seu Conselho Deliberativo era formado por Odysséa Silveira de Siqueira, Arina Gomes Alonso, Arlete Vieira e Jane Pires Paluma, como suplente.

A novel instituição era considerada uma das instituições de maior projeção no município. A moção de aplausos, proposta por Nicanor Ferreira Nunes e subscrita pelos vereadores: Agnélio Marques Henrique, José Antônio do Nascimento, Francisco da Costa Assumpção, Nazareno Veiga Nocchi, José Alves Barbosa e Levy Farias da Costa, afirmava “que a UBT-SG, durante esses dois anos de existência, vem contribuindo, como nunca foi feito até o presente momento, para a revelação de autores gonçalenses, através da divulgação de seus trabalhos pela imprensa escrita e falada”. Destacava-se a integração do movimento local ao nacional, a publicação de trovas de autores gonçalenses em coletâneas nacionais e editadas a partir de encontros regionais, além disso, a “UBT-SG tem fomentado a publicação de livros de trovas, em São Gonçalo, inclusive já estando se organizando para publicação de uma edição com as melhores trovas de alguns associados da UBT, livro que terá caráter inédito na cidade, ao ser editado por uma entidade cultural local”.

Naquele momento a UBT-SG já organizava uma das atividades que comporia a II Semana de São Gonçalo, evento criado pela Prefeitura local para comemorar os 78 anos de emancipação político-administrativa. O I Concurso de Trovas de São Gonçalo, tendo como tema a “indústria”, foi exitoso, segundo o então prefeito Osmar Leitão Rosa:

“Cada trovador gonçalense começou pesquisa, iniciou trabalho à espera da hora inspiradora. Mas também outros trovadores do Estado do Rio e do Brasil atenderam ao chamado de cantar o potencial industrial de São Gonçalo em quatro versos. Tarefa dura, mas gostosa. E as trovas começaram a chegar. Fiquei surpreso ao saber que mais de trezentas pessoas participaram do certame. Os daqui aprendiam um pouco mais sobre a cidade. Os do Estado do Rio falavam mais do município. Os do Brasil passaram a cantar em versos a comuna de que talvez nunca antes tivessem ouvido falar”.

A Comissão organizadora do concurso foi composta de Hairson Monteiro, presidente; Antolauro Alfradique, Geraldo Lemos e Jacy Pacheco. Do conjunto de trovas inscritas, as cinco primeiras colocadas foram premiadas com troféus e valores em espécie. Da 6ª até a 10ª, todas receberam medalhas e, da 11ª até a 20ª, estas receberam menção honrosa. Foram classificadas ainda 35 trovas, totalizando 55 versos. A vencedora foi a trovadora niteroiense, Zuleika Hallas Walsh, com a seguinte composição:

       Crivado de chaminés

Com fumaradas em til

Sei, São Gonçalo, que és

A “Manchester” do Brasil.

As 55 trovas classificadas foram de trovadores de Cachoeiras de Macacu, Magé, Niterói, Nova Friburgo, São Gonçalo, Santo Antônio de Pádua, Sumidouro e Volta Redonda.

Em 1969, para perenizar em livro, o resultado do concurso foi publicado, o I Concurso de Trovas de São Gonçalo – RJ, subsídio fundamental para o registro dessa história.

A segunda diretoria da Seção Gonçalense da UBT, responsável pelo biênio 1969/1970, foi composta por: Presidente: Edson Vianna de Mattos, Vice-Presidente Administrativo: Paluma Filho, Vice-Presidente de Cultura: Juarez Moreira; Vice-Presidente de Finanças: Belarmino de Mattos; Vice-Presidente de Relações Públicas: Gilvan Carneiro da Silva; suplente: José Odair de Carvalho. O Conselho Fiscal era constituído por Arlete Vieira, Jane Pires Paluma, Antolauro Alfradique, tendo como suplente, Ney Soares. Seu Conselho Deliberativo era formado por Nerliço Santorio Soares, Odysséa Silveira de Siqueira, Arina Gomes Alonso, e, como suplente, Eduardo Pacheco.

Efêmero, no entanto, parece ter sido esse primeiro esforço organizacional do movimento trovadoresco, mas não da trova! Não localizamos a realização de outros concursos ou de Jogos Florais na cidade. Os trovadores locais mantiveram suas participações em certames dos mais diversos cantões do país[1]. Participaram dos Torneios de Poesia Falada e publicavam nos principais periódicos locais, a revista A Gaivota e o jornal O São Gonçalo. Nas décadas de 1980 e 1990, por exemplo, este jornal mantinha a coluna Trovas e Travos[2].

Quarenta anos depois do I Concurso de Trovas em São Gonçalo, iniciou-se o movimento para recriação da Seção Gonçalense da UBT. Em 2008, Milton Nunes Loureiro, presidente da UBT do estado do Rio de Janeiro, solicitou a Gilvan Carneiro da Silva que assumisse a Delegacia de São Gonçalo e reorganizasse a Seção local. Quixotescamente Gilvan Silva escreveu para os trovadores que apareciam em coletâneas do gênero, sem êxito. Ao conseguir o apoio de Osvaldo Luiz Ferreira e Benearle de França Conceição, convocou uma reunião no auditório do Sindicato das Escolas Particulares (SINEPE). A essa seguiram outras reuniões preparatórias até que, no ano seguinte, a Seção São Gonçalo foi reinstalada, tendo como presidente Osvaldo Luiz Ferreira. A partir de então, a UBT – São Gonçalo se consolidou como uma das principais instituições culturais do município, já tendo três coletâneas publicadas e mantendo as suas reuniões regulares, em um dos salões do Abrigo do Cristo Redentor.

BIBLIOGRAFIA:

I Concurso de Trovas de São Gonçalo – RJ. S/l: s/n., 1969.

FERNANDES, Rui Aniceto Nascimento. Um santo nome. Histórias de São Gonçalo de Amarante. São Gonçalo: São Gonçalo Letras, 2004.

FUNDADOR da UBT. Luiz Otávio. Disponível em: https://ubtportoalegre.wordpress.com/fundador-da-ubt/

OS JOGOS Florais. 22/05/2009. Disponível em: https://nuhtaradahab.wordpress.com/2009/05/22/os-jogos-florais/

PINTO, Maria do Rosário. Rodolfon Coelho Cavalcanti. Site Cordel. Fundação Casa de Rui Barbosa. Disponível em: http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/RodolfoCoelho/rodolfoCoelho_biografia.html

UBT-SG. Trovadores gonçalenses. Trovas. Cachoeirinhas, RS: Agência Texto Certo, 2013. Vol. I.

_____. Trovadores gonçalenses II. Trovas. Cachoeirinha: Textocerto, 2014. Vol. II.

_____. Trovadores gonçalenses. S/l: s/n., 2016 Vol. III.

[1] As coletâneas organizadas por Aparício Fernandes, nas décadas de 1970 e 1980, são importantes registros da participação de trovadores gonçalenses no movimento trovadoresco nacional. Outras fontes são as publicações dos Jogos Florais, realizados em variados lugares do país.

[2] Em pesquisa anterior, localizei trovas relativas ao beato amarantino publicadas nas edições Nº 9538, de 13 e 14/01/1988 e nº 10159, de 30 e 31/01/1992.

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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