Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

O bairro Piratininga ou lugar de peixe seco

Série: Histórias de Arariboia

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Existe maneira bem simples de escrever uma crônica. Ou você procura um bom texto de Machado de Assis e o imita, ou tenta bancar o meteorologista amador e construir uma prosa sem graça e vazia de sentido: vai chover hoje! Vem temporal aí! Entretanto, se quiser falar de assunto agradável e instrutivo, escolha algum tema ligado à natureza, prefira o mar reluzente em dia recreativo e meta um bom assunto histórico e didático no meio. Não entendeu? Então vamos ao caso.

O tema da crônica de hoje é o bairro Piratininga. Pois é, balneário bacana de Niterói, desde muito preferido pelos banhistas que não possuem carros de passeio. A localidade toda contorna a lagoa homônima, ladeando o Oceano Atlântico, a Serra Grande e o Morro da Viração. No quesito territorial fronteiriço Piratininga tem por vizinhos os bairros: Itaipu, Cafubá, Camboinhas, Jacaré, São Francisco, Charitas e Jurujuba. Bem provável você escutar por aí que o lugar pertenceu outrora a certo Cristóvão Monteiro e acabar misturando as histórias do Brasil. Mas não, você não deve fazer confusão com o mais famoso Cristóvão de sobrenome Colombo, pois se trata de outro e mais tardio desbravador das terras de cá, o proprietário da então sesmaria de Piratininga.

Confesso não poder dizer com fé e sinceridade a data certa em que esse paraíso fora chamado Piratininga. Isso mesmo, afirmar convicto o registro histórico por essas bandas é incorrer no risco do equívoco. Melhor não, algumas épocas não convergem bem nos documentos. No entanto, é legítimo postular que as cercanias balneárias do lado de Piratininga foram doadas a Cristóvão Monteiro, um tipo de Capitão-mor da Casa Real Portuguesa da Capitania de São Vicente. Não é à toa que existe também Piratininga lá para os lados de São Paulo. Exatamente, sobre isso eu garanto, o fidalgo português de fato constituía homem de posses, dizem até que as terras da Zona Oeste de Santa Cruz foram a eles doadas um pouco antes. Verdade, trata-se daquele mesmo desbravador amigo de Martim Afonso de Sousa, o qual lutou junto para expulsar os franceses da Guanabara.

Outro dado interessante decorre da origem do nome Piratininga, que significa Pirá (peixe)+ tininha (seco), em outras palavras, peixe seco. Incrível como a língua tupinambá entranhou no falar gastronômico fluminense, não acha? Veja só: piranha (peixe que abocanha), Piraí (rio de peixes), pirão (caldo de peixe), Pirapitanga (peixe avermelhado), dentre outras referências nativas. Claro que essas cercanias de Niterói tiveram seu quinhão de importância na atividade pesqueira. Secava-se o peixe em base salgada. Um modo primitivo, porém eficaz de conservar o pescado. Peixe seco, Piratininga, viu só? Desnecessário afirmar que a bela Niterói tem mesmo sua cultura marcada pela civilização indígena. Já não configuram novidades as narrativas das antigas aldeias dos nossos antepassados. Arariboia que o diga, legado da gente, fixou residência nas Bandas de Além.

Mas, para efeito de enredo, voltemos rápido ao assunto do presente antes de encerrar a história: Piratininga, terra de peixe seco, praias famosas e gente boa de prosear. Cidade de Niterói, enfim, vale a pena conhecer.

Fontes:

PIMENTEL, Luís Antonio. Topônimos Tupis de Niterói. Niterói, RJ: Editora Icaraí, 1988.

https://www.dicionariotupiguarani.com.br/kb-tag/piratininga/

https://www.culturaniteroi.com.br/blog/?id=342&equ=ddpfan

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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