Se não fosse o Caminha!
Caro Dom Manuel I.
Endereço-te tais palavras cá do século XXI, com um único e desesperado propósito, de recomendar à vossa majestade, para que ignore qualquer dissertação remetida por um certo Pero Vaz de Caminha, acerca de um infortúnio descaminho repleto de relevantes controvérsias, que levou vossas naus às margens de um paraíso tropical, cujo solo pariu este que aqui se apresenta como Povo Brasileiro!
Haverá mais tarde, quem culpará Cabral, mas, estou convicto de que o grande causador das desgraças que afetarão diariamente este belo país, não seria outro, senão vosso escrivão Caminha e sua carta. Portanto, ignore qualquer menção que este fizer sobre o vasto colorido de nossas matas exuberantes. São somente vislumbres de olhos seduzidos pelo desenho magnifico das copas frondosas que sobream este solo fértil, amparado por uma geografia simetricamente encantadora.
E quando, embebecido pelo lume cristalino de nossos rios, ele glorificar a esplendorosa maestria, com a qual correm abundantes nossas águas, cortando vales, serras, matas e planícies, considere apenas ternura de um homem do mar, para com as águas navegáveis.
Ignore-o completamente, quando ele tentar resumir a diversidade de nossa fauna, ou, de algum modo, quiser descrever os galantes silvícolas emplumados com as cores da natureza, que por aqui há. Livres tais quais nossas majestosas aves. Suplico-te, aborte qualquer pretensão que visitar vossa mente, acerca de instalar aqui uma colônia, e assim implantar uma sociedade extrativista. Aliás, ministre imediata ordem, para que seu confiável Cabral siga de fato para as Índias, e apague para sempre qualquer vestígio de lembrança acerca da existência destas terras. Aborte qualquer expedição para cá.
Será para nós incrivelmente doloroso, assistir nossas arvores ímpares em raridade, serem arrancadas do solo que as germinaram para enfeitarem o luxo da nobreza. Isso sem mencionar nossos minérios e toda a riqueza que jorra das montanhas do eldorado mineiro. Faça isso não majestade! Decrete imediata proibição de aportar por aqui, os navios negreiros que tencionam amaldiçoar tais terras com a podridão da escravidão. Deixe cá estar o índio, o Tucano vasculhando as copas das arvores, o Mico-leão-dourado que se agita nos galhos, a Onça-pintada caçando no breu da mata e a proteção divina que, por estas bandas, parece atuar com maior disposição. Em conclusão, imploro para que ignore Caminha! Prenda-o na mais temível masmorra se, por acaso, ao menos mencionar os encantos deste paraíso. O Brasil não pode ser descoberto!
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