Erick BernardesHISTÓRIAS DE ARARIBOIA

O Conde do monte e o castelo de Niterói

Série: Histórias de Arariboia

Foto: Carlos Ivan

Há pessoas que já partiram deste mundo há tempos, mas não tardam em aparecer em nossa imaginação. Não, não falo de fantasmas que voltam para nos perturbar o juízo, tais quais as almas penadas das lendas e mitos populares, como o Saci-pererê, que já foi moleque vivo noutras épocas; ou como a Mula sem cabeça das histórias de amor proibido entre padre e moça faceira. Nada disso, de jeito nenhum. Falo sobre o Conde Pereira Carneiro do Castelo da Armação, que me visita na mente, toda vez que atravesso a Ponte.

A lembrança do senhor Ernesto Pereira Carneiro e a sua vida de superimportância não passam ao largo da história fluminense. Lógico, a biografia é boa, trajetória histórica reconhecida, sucessos e beneficências ao longo da carreira de homem de negócio que foi –  e variados elogios da imprensa mundial. Por falar em imprensa, publicaram naquela época (Jornal do Brasil, 1818): “O jornal do Brasil mostra força e recupera sua economia, tornando-se um dos jornais mais lidos da nação”, sob a visão moderna de Pereira Carneiro. Na sequência, o nosso visionário se lança às ajudas humanitárias. Verdade, um higienista, por assim dizer. Ou seja, preocupações sanitárias lhe dominavam doravante. Prova disso é que Pereira Carneiro foi um dos ricos e pioneiros a adotar novos métodos de higiene e “proteção dos seus operários, chegando a construir uma vila que levou seu nome, situada em Niterói, dotada de escolas”, a famosa Villa Pereira Carneiro.

Sua colaboração com as obras sociais da Igreja e a doação de uma substancial quantia de contos de réis, para auxiliar no combate à epidemia da “gripe espanhola” que maltratou o Rio de Janeiro em 1918, fizeram com que o papa Bento XV conferisse ao nosso personagem, no ano seguinte, o título de conde pelo Vaticano. Trata-se um dos membros fundadores da maternidade e do hospital dos tuberculosos da Santa Casa de Misericórdia de Recife. Sim, exatamente, figurão elegante e conde de fato. Há até um casarão com duas torres medievais nomeado de Palacete da Condessa. Um tipo de castelo miniatura. Seria um presente oferecido à esposa transformado em residência familiar? Não sei, ignoro essa e outras informações. Mas de uma coisa estou certo: rico, famoso e gente boa, ao menos o conde era considerado na opinião popular.

Está claro que esses assuntos de filantropia não ficavam só no papel. Além disso, coincidência ou não, o tema nos ter surgido à tona novamente revela somente a importância das pessoas se juntarem no combate às pandemias. Os ricos ajudarem os pobres; o respeito à saúde dos trabalhadores como foco de atenção e tudo isso combina bem. A Covid está aí. O fantasma é outro, mas o Corona mata tanto quanto a centenária Gripe Espanhola. Cadê os donos do capital de agora, onde se enfiaram as boas almas?

Enfim, vive-se ainda a fase das utopias. Busca-se saúde sem investimento, nossos fantasmas são os mesmos aos dos nossos pais, como diria a Elis Regina. Uma pena.

FONTE:

Boletim Min. Trab. (5/36); CÂM. DEP. Deputados; Câm. Dep. seus componentes, CONSULT. MAGALHÃES, B.; Encic. Mirador; GODINHO, V. Constituintes; Grande encic. Delta; HIRSCHOWICZ, E. Contemporâneos (1949); Jornal do Brasil (23 e 24/2/54; 14/4/76; 14 e 20/4/77 e 18/9/80); Tribuna da Imprensa (19/2/54).

Blog bairros.com

Crédito da foto: Carlos Ivan.

 

 

 

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Erick Bernardes

A mesmice e a previsibilidade cotidiana estão na contramão do prazer de viver. Acredito que a rotina do homem moderno é a causadora do tédio. Por isso, sugiro que façamos algo novo sempre que pudermos: é bom surpreendermos alguém ou até presentearmos a nós mesmos com a atitude inesperada da leitura descompromissada. Importa (ao meu ver) sentirmos o gosto de “ser”; pormos uma pitadinha de sabor literário no tempero da nossa existência. Que tal uma poesia, um conto ou um romance? É esse o meu propósito, o saber por meio do sabor de que a literatura é capaz proporcionar. Como professor, escritor e palestrante tenho me dedicado a divulgar a cultura e a arte. Sou Mestre em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ e componho para a Revista Entre Poetas e Poesias — e cujo objetivo é disseminar a arte pelo Brasil. Escrevo para o Jornal Daki: a notícia que interessa, sob a proposta de resgatar a memória da cidade sob a forma de crônicas literárias recheadas de aspectos poéticos. Além disso, tenho me dedicado com afinco a palestrar nas escolas e eventos culturais sobre o meu livro Panapaná: contos sombrios e o livro Cambada: crônicas de papa-goiabas, cujos textos buscam recontar o passado recente de forma quase fabular, valendo-me da ótica do entretenimento ficcional. Mergulhe no universo da leitura, leia as muitas histórias curiosas e divertidas escritas especialmente para você. Para quem queira entrar em contato comigo: ergalharti@hotmail.com e site: https://escritorerick.weebly.com/ ou meu celular\whatsapp: 98571-9114.

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