FEITO PASSARINHO
Com a chegada da Pandemia, a conversa entre mim e o meu vizinho ficou menos frequente. No segundo mês do isolamento social, senti falta do canto do meu amigo Sam.
Discreto, metódico, mas também simpático e comunicativo. Essas são as características do meu vizinho – um senhor com mais de setenta anos – morador do apartamento dos fundos.
Nossas áreas de serviço ficam uma defronte a outra. Como não conversar com idoso de bem com a vida?! Fazia isso algumas vezes em intervalos do meu trabalho doméstico. Outras vezes enquanto eu lavava roupas, observava sua rotina matinal a cuidar do pássaro na gaiola. Era um trinca-ferro. Nunca entendi nada sobre passarinhos, porém segundo ele, era um dos mais caros.
O canto extremamente agradável, abençoava nossas manhãs. O pássaro se chamava Sam, e acreditem, atendia pelo nome!
Com a chegada da Pandemia, a conversa entre mim e o meu vizinho ficou menos frequente. No segundo mês do isolamento social, senti falta do canto do meu amigo Sam. Observei também que a gaiola não estava mais na área de serviço. Vigiei por mais de uma semana até que sem me conter, perguntei ao meu vizinho o que tinha acontecido. Ele respondeu com a voz embargada que havia libertado o Sam há vinte dias.
Revelou também que foi preciso sofrer o confinamento para dar valor à verdadeira liberdade. Não seria justo manter o Sam na mesma condição em que ele se encontrava longe das netas, longe de todos, morando sozinho.
Comovida com o relato, sugeri emprestar bons livros e conversarmos mais vezes. Já encerrávamos o assunto quando ouvimos um som muito familiar. Simultaneamente olhamos para o alto do prédio. Lá estavam dois pássaros! Sam acompanhado de um outro, da mesma espécie, um pouco menor. Rimos e ficamos torcendo que eles retornem futuramente com seus filhotes!