João Rodrigues

Entre protestos e aplausos

No sapato apertado carrego um calo que dói e reclama.

Tiro o sapato, ponho-o nas mãos, para a felicidade do calo.

Mas logo o pé fica insatisfeito com o asfalto quente.

Com o calor, o calo fica vermelho de raiva e,

por pura pirraça, passar a latejar.

As mãos protestam contra o fedor dos sapatos,

e estes, por sua vez, rosnam ferozmente, se sentindo discriminados.

 

Ponho um sapato debaixo do braço e outro no pé sem calo,

para a insatisfação do outro pé, que não aguenta mais o asfalto fervendo.

As mãos ficam felizes, batem palmas,

elogiam-me como se eu fosse o mais justo e piedoso dos reis.

 

O pé quer um sapato maior;

o sapato exige um pé sem calo;

as mãos não querem receber sapatos refugiados;

o calo pede um asfalto frio…

 

Pobre de mim!

Como é difícil agradar a todos!

 

E assim sigo a vida entre protestos e aplausos.

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João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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