Entre protestos e aplausos
No sapato apertado carrego um calo que dói e reclama.
Tiro o sapato, ponho-o nas mãos, para a felicidade do calo.
Mas logo o pé fica insatisfeito com o asfalto quente.
Com o calor, o calo fica vermelho de raiva e,
por pura pirraça, passar a latejar.
As mãos protestam contra o fedor dos sapatos,
e estes, por sua vez, rosnam ferozmente, se sentindo discriminados.
Ponho um sapato debaixo do braço e outro no pé sem calo,
para a insatisfação do outro pé, que não aguenta mais o asfalto fervendo.
As mãos ficam felizes, batem palmas,
elogiam-me como se eu fosse o mais justo e piedoso dos reis.
O pé quer um sapato maior;
o sapato exige um pé sem calo;
as mãos não querem receber sapatos refugiados;
o calo pede um asfalto frio…
Pobre de mim!
Como é difícil agradar a todos!
E assim sigo a vida entre protestos e aplausos.