Ao respirar profundamente
E não conseguir alcançar
A profundidade de mim mesma
Sinto o peso do amontoado de dores
Dores minhas,
De outros que depositaram em mim
Por meio de cobranças,
Críticas,
Olhares,
Medos e gritos
Palavras ecoantes e silentes em um olhar
Que maltratava…
Falar era erro, aquietar também
Somente restava engolir sem deglutir
O choro que jaz em mim…
Neste amontoado de lixo emocional
O chicote da alma repica criticamente
Estando ali, ecoante…
Sobrepujo o lixo incandescente
Que jaz em mim
Para florescer com cheiro de Jasmim
(Michelle Carvalho)
A gente olha pra dentro de si e por mais que tente seguir em frente com motivação, superação e alegria, o nosso corpo fala e mostra as dores, marcas, cicatrizes físicas, emocionais e musculares que nos foram deixadas.
Mesmo sabendo de nossa capacidade pulmonar de expandir e expelir o ar que nos inunda de forma gratuita e imensa, parece que às vezes isso falha…
Falhar a capacidade de respirar sem nenhuma patologia física, nenhuma doença respiratória, como pode?
Sim! Isso é possível!
Tantas vezes nos pegamos parados, sem expelir o ar, como se estivéssemos em uma imensa piscina na qual não pudéssemos respirar, mas tudo isso em um dia comum, sentados, de pé, em casa, na rua… Quando nos damos conta, puxamos o ar novamente com a mesma sensação de emergir do fundo do mar…
É como viver submersos, em meio a água sem fim, mas na verdade é estarmos submersos em lixo emocional que foi se depositando e sufocando quem realmente somos.
É uma luta diária travada entre a alegria de amar cada vitória, por menor que seja, e a crítica que chicoteia a alma pra mostrar que nada foi suficiente.
A alegria se mostra satisfeita em ter subido um degrau, já a crítica, olha com deboche escarnecendo da ínfima modificação, dizendo que não somos capazes, que não chegaremos a lugar algum… O que, na maioria das vezes, nos deixa acreditando na nossa incapacidade.
Por que é tão mais fácil dar crédito a quem duvida de nós do que a quem nos impulsiona?
A resposta é simples, a facilidade pende para o que é a verdade dentro de nós mesmos. Se acreditarmos em nossa capacidade, na nossa luta, no que temos de bom, o crédito nunca será dado a quem duvida, porque lá dentro não resta dúvida da nossa competência!
O que dificulta tudo isso?
O lixo emocional que vai sendo depositado por anos a fio por pessoas que nos cercam, que nos prejudicam mesmo quando não querem, que nos chantageiam, que nos mantém em cárcere emocional, que nos chicoteiam com críticas, as quais vão se internalizando e se agarrando em nosso ser, tal qual mariscos no rochedo.
Esse lixo emocional nos mantém no cárcere do medo, da falta de coragem, da dor, e nos chicoteia a alma com críticas inimagináveis em cada passo que damos… Fazendo-nos sufocar, prender o ar involuntariamente para engolir a dor, engolir a vontade de responder, de gritar o que nunca é dito, o que sempre foi desejado de ser falado desde a infância, mas que a égide alheia nunca permitiu…
Ao conseguir enxergar o lixo emocional que sobrecarrega, conseguimos saber o que não é nosso, o que é do outro e está ali depositado, inerte, morto dentro de nós, causando peso, mas que não nos pertence porque jaz apenas na memória, não na nossa essência.
No processo de nos conhecer, reconhecer e retirar o que jaz em nós, nos despedimos de fardos, chicotes, algozes e nos aceitamos…
Da aceitação, vislumbramos o florescer do respeito próprio sem o peso do que jaz, podendo olhar para trás e discernir entre as coisas que fez, que alcançou, ler as coisas que escreveu e refletir as coisas que falou, sabendo separar o que foi feito através do peso do lixo emocional e o que foi realizado por nós mesmos. Isso faz crescer o orgulho de ser quem somos com erros e acertos.
Não se trata de perfeição, mas sim de aceitar os defeitos, permeando-os e aprendendo com eles.
Michelle Carvalho
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