João Rodrigues

Amizade canina

Ah, não tem amizade mais fiel!

Se tem uma amizade da qual entendo muito bem é uma amizade canina. Indubitavelmente é a mais verdadeira, a mais intensa e a mais segura. Não há risco de você ser traído nem sequer sofrer um ato de ingratidão, de injustiça ou de qualquer sentimento ruim que há entre os humanos. Na verdade, não há nada mais humano (no sentido estrito do “adjetivo”, segundo o Aurélio), do que um cachorro. Ele é piedoso, compreensivo, protetor e tem tantas outras qualidades, que não entendo por que chamam de “cachorrada” quando os homens estão discutindo entre si, se ameaçando, brigando e não sei lá mais o quê.

Pois é, aqui em casa tenho 3 cães: uma vira-lata na rua, um pitbull misturado com border collie na varanda e um pinscher dentro de casa. É verdade que às vezes dá problemas entre eles – o pitbull não gosta do vira-lata; e o pinscher não é muito chegado do pitbull. No entanto, o pitbull não revida às tentativas de agressões do pinscher, acredito que é porque ele entende que o outro é pequenino, não é páreo pra ele, e deixa pra lá. Mas todo esse problema que há entre eles é por questão de território É nessa parte que acho os cachorros mais parecidos com os homens. Tirando isso, são muito melhores do que nós.

Mas vamos voltar ao assunto “amizade canina”, pra que o leitor possa entender meu ponto de vista. Afinal, para se sustentar uma tese tem-se que ter argumentos. E lá vão os meus a partir do parágrafo seguinte.

Muitas vezes, antes de chegar em casa encontro o Tem Dia pela rua (o vira-lata), que, ao me ver, logo larga qualquer coisa que esteja fazendo e me acompanha até o portão. Antes que eu desça da moto ou do carro, lá vem ele me encostando o focinho, me cumprimentando, como se me dissesse “Bom dia” ou “Tudo beleza?”. Quando abro o portão, o Thor (o pitbull) me recepciona aos pulos, coloca as mãos sobre mim, me abraçando, e rapidamente arrasta um tapete e joga aos meus pés, me convidando para brincar – já rasgou todos os tapetes de casa. E ai daquele que inventar de adentrar o portão sem ser convidado! Fica pior do que qualquer tapete. Ao entrar em casa, Lobinho (o pinscher) já está esperando, ansioso, e também fica aos pulos na minha frente, correndo de tanta alegria. Agora, como está mais velho, às vezes se limita a me cheirar e receber um cafuné e logo vai se deitar de novo.

É verdade que cuido deles: dou água, comida, remédio (quando necessário) e atenção. E em compensação eles me respeitam, me protegem, me dão atenção e carinho. Vez ou outra converso com eles – explico, oriento, reclamo quando fazem algo errado – e me compreendem melhor do que os compreendo. Há pessoas das quais você pode cuidar mil vezes, mas se falhar um dia, pronto!, tudo que foi feito anteriormente já era. Aí ela se zanga, te esculhamba, faz piadas nas redes sociais, faz o escarcéu.

Já com meus cachorros é diferente! Se eu falhar com eles, não reclamam; e quando eu vou lá e conserto a falha, ficam felizes como se nada tivesse acontecido. É nesse momento que me sinto envergonhado, pois eu queria que reclamassem, que me xingassem, que me cobrassem por isso ou por aquilo, mas não, ficam morrendo de alegria, como se estivessem ao lado da pessoa mais importante do mundo. E o melhor, posso estar com dinheiro ou liso, bem ou mal, feliz ou triste, que me tratam da mesma forma. Que lição!

Bem que eu gostaria de ser parecido com eles, mas infelizmente minha personalidade humana não permite. E humanamente egoísta que sou, fico feliz por serem assim.

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João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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