A Crise da Dona Educação – Parte II
E Dona Educação se despediu da Drª História perambulando entre as sensações de conforto e ansiedade. Na verdade, ela sentia que não entendera plenamente o que a História lhe contou. Alguma coisa parecia estar faltando, ou parecia estar errada – e errada com a História – não com ela mesma.
Decidiu então procurar uma segunda opinião médica antes de seguir as recomendações da Drª História. Afinal, uma mesma história pode ter dois ou mais lados, né? E lá se foi a Dona Educação, com passos pedagogicamente firmes, rumo a busca de respostas sobre sua própria crise existencial.
Ao passo que seguia caminhando na Avenida das Possibilidades, percebia que as pessoas a evitavam. Como se ela estivesse doente, com algum vírus contagioso. Percebia que algumas pessoas que vinham na direção contrária a dela trocavam de calçada. Alguns olhares transmitiam desprezo, nojo ou desdém. Alguns pareciam até mesmo furiosos.
Nessa situação angustiante, sentiu vontade de voltar pra casa. O seu endereço, muito conhecido – Rua da Cultura, S/Nº – era fácil de achar e ela estava acostumada a receber muitas visitas. Quem sabe ao chegar em sua casa, algum visitante inesperado poderia lhe explicar o que estava acontecendo?
Ao se aproximar do seu endereço, percebeu que havia mais alguma coisa errada. A Rua da Cultura estava irreconhecível – cheia de lixo contaminado com material radioativo: O Preconceito Enriquecido. E além deste havia um material biológico altamente contaminante espalhado por todos os lados que continha vários tipos de vírus e bactérias entranhados nele: A cepa da Teimosia, Colônias de Orgulho, micro-organismos de ganância e ódio, além de muitos outros. Um verdadeiro horror. Viu-se obrigada a usar algo para tentar se proteger. Improvisou uma máscara para cobrir-lhe a boca e o nariz. Uma tentativa, apenas… mas uma tentativa.
Ao seguir em frente para entrar em sua casinha, outrora uma conhecida escola de pensamento, percebeu que a porta havia sido arrombada – e com muita violência.
Pé ante pé, adentrou cautelosa em seu templo violado, imaginando ainda estar ali o malfeitor. Só havia silêncio.
Alguma coisa estava errada. Mais errada do que antes.
Sentou no seu velho sofá. Achou o controle remoto. Olhou para ele. Olhou a velha TV de tubo. Num descrente e hesitante apertar de botão do dispositivo eletrônico, a máquina de desinformação começa a funcionar…
Os noticiários noticiaram as notícias noticiosas.
E ela começou a compreender o que estava acontecendo…
( continua…)